As estrelas cintilantes da história da Turquia

Os jovens “Ahis”

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As estrelas cintilantes da história da Turquia

A palavra “Ahi” tem uma estrutura fonética próxima de “aki” no âmbito dos idiomas turcos. “Akilik” significa genorosidade. Já em árabe, a palavra “ahit” significa “meu irmão”. Em persa, utilizamos esta expressão para dizer “homem jovem”. Em latim, “cavaleiro” está associado aos conceitos de jovem e corajoso.

Ao longo da história, na cultura e a civilização turcas, o “movimento ahi” foi criado na época dos Seljúcidas. A “fraternidade” e o “altruísmo” expressos no Corão e nos hadiths, são um pilar do movimento Ahi (uma organização religiosa e profissional). A estrutura educativa do sufismo islâmico e da juventude, pode ser percebida no sistema educativo generalizado dos jovens Ahis na Anatólia.

O sultão seljúcida Kilic Arslan II, estabeleceu a unidade política na Anatólia, depois de ter alcançado a vitória de 1 176. Ele aspirava a reconstruir a Anatólia em todos os aspetos. Em 1 180, o califa abassida An-Nasir tentou restabelecer a sua potência. Foi nesta época, que ele entrou em contato com o sultão seljúcida Kilic Arslan II. Foi durante o reinado do seu filho, Kay Khusraw I, que a organização religiosa e profissional fundada em Bagdade, começou realmente a emergir na Anatólia. As obras, incluindo as particularidades do movimento ahi, foram enviadas ao soberano seljúcida An-Nasir e aos juízes de todas as cidades islâmicas, para lhes pedir que se juntassem à organização religiosa e profissional.

Kay Khusraw I enviou o seu mestre Mecduddin Ishak, enquanto mensageiro de Konya para Bagdade. Ele chegou à Anatólia juntamente com sufis como Ibn Arabi, Al-Kirmani e Ahi Evran, a pedido do soberano Kay Khusraw I. A organização dos Ahis foi finalizada na Anatólia, após Kay Kawus I e Kay Kubadh se terem juntado à organização religiosa e profissional. O facto de An-Nasir ter convidado o filósofo místico Sohrawardi para a Anatólia durante o reinado de Kay Kubadh I, foi um momento de viragem no estabelecimento do movimento ahi na Anatólia.

O fundador do movimento Ahi na Anatólia, foi o xeque Nasirussin Madmud, nascido em Khoy no Irão – numa região que hoje corresponde ao Azerbaijão ocidental. Ele acabaria por ficar conhecido pelo nome de Ahu Evran. A organização Ahi dava apoio ao desenvolvimento profissional, religioso e moral das pessoas que não podiam ter acesso à educação através das madrassas formais, consideradas como estabelecimentos públicos durante a época dos seljúcidas.

Para que os “jovens ahis” se pudessem tornar cidadãos úteis à sociedade, eles eram educados em estabelecimentos como os tekke (locais de culto para os dervichesgiradores), nos zaouias, nas mesquitas e nos conventos dos derviches.

Para além destas responsabilidades assumidas pelos Ahis, eles preveniram a desordem causada pela invasão mongol, e assumiram missões para restabelecer a ordem nas situações em que a autoridade do estado não estava em condições de o fazer. Nas suas cidades, os ahis estabeleceram as suas organizações sob a forma de grupos profissionais (ou comerciais), com cada uma a ter a sua Zaouia. Nas pequenas cidades, os diversos grupos profissionais reuniam-se numa só zaouia.

Os Ahis desempenharam um papel muito importante na criação do império otomano. Os primeiros sultões e vizires otomanos eram, na sua maior parte, membros do movimento Ahi. Osman Gazi e Orhan Gazi, eram ambos “jovens Ahis”. Em meados do século XIV, o célebre viajante Ibn Battuta – que estava na Anatólia durante a época de Orhan Gazi – disse que os Ahis eram uma comunidade de artesãos e industriais, organizada nas cidades e aldeias.

Depois da cerimónia de adesão, o candidato deveria trazer o “sedd” - um cinto feito em tecido – e um shalwar (calças folgadas), para se tornar membro da organização.

Os jovens Ahis pasavam por três etapas de aprendizagem, antes de poderem obter o seu certificado de mestre, que depois lhes permitia abrir o seu próprio estabelecimento. Na organização, o mestre mais honesto e o mais respeitado por todos – que era também provavelmente o mais velho – tornava-se presidente dos Ahis. Ele tinha também um vice-presidente, que era responsável por manter a ordem entre os comerciantes. Os chefes Ahis (Ahi babalari), eram geralmente os representantes do “grande chefe” nas várias províncias, e a sua missão era servir a “tekke”de Ahi Evran em Kirsehir.

Os jovens Ahis tinham também um ramo feminino. As mulheres eram geralmente dirigidas pelas esposas dos soberanos, incluindo as esposas dos chefes Ahis e mulheres que faziam parte da organização comercial. Estas mulheres eram apelidadas de Irmãs da Anatólia (Anadolu Bacilari).



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