A perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente

A visita do presidente chinês ao Médio Oriente e a política da China.

453375
A perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente

(Transcrição do programa de rádio)

A China registou um rápido desenvolvimento económico até aos nossos dias, graças às políticas económicas postas em prática desde 1 979. Este processo tornou o país cada vez mais dependente do petróleo do Médio Oriente. Atualmente, 50% do fornecimento de petróleo à China é oriundo dessa região. Essa dependência vai aumentar ainda mais nos próximos anos.

Desta forma, o fluxo contínuo de petróleo do Médio Oriente reveste-se de uma grande importância para China. A durabilidade e a estabilidade da China, dependem da continuação do crescimento económico sem quaisquer perdas de velocidade, e esse crescimento depende em grande medida da segurança energética.

Trabalhando para garantir a sua segurança energética, a China está a investir no realçar da dependência económica recíproca com os países exportadores de petróleo da região, e tornou-se num dos parceiros económicos dominantes no Médio Oriente.

Para além das relações comerciais, a China realizou também investimentos de vários milhares de milhões de dólares no Irão, no Iraque e noutros países do Golfo Pérsico, e encorajou esses países – com o Qatar na linha da frente – a investir também na China. Por outro lado, a China pretende também concluir acordos de livre comércio com os países do Golfo Pérsico.

A estabilidade do Médio Oriente é obrigatória para a China, pois disso depende o fornecimento energético do país. A estabilidade na região é também essencial para garantir a segurança dos seus investimentos.

Por tudo isto, a China quer evitar ser implicada nas políticas caóticas da região. Até agora, no âmbito das alianças estratégicas que incluem obrigações recíprocas, a China preferiu colocar em primeiro plano as relações de dependência recíproca.

No final de contas, a situação na qual se encontra a região, desde sempre forcou a China a efetuar trabalho geopolítico. Com este objetivo em mente, a China deu passos para desenvolver rapidamente a sua frota naval, por forma a poder defender a sua própria segurança energética.

E neste contexto, deixamos a pergunta: Será que o veto da China no Conselho de Segurança das Nações Unidas, contra uma intervenção internacional na Síria, não representa uma tomada de posição ao lado da aliança que apoia o regime? Se a sua resposta for “sim”, não será isso contrário à política que acabámos de resumir?

A tomada de posição da China ao lado da Rússia, para bloquear uma intervenção do Conselho de Segurança das Nações Unidas, não está relacionada com a aliança entre o Irão, o regime de Assad e a Rússia. A China não impediu a intervenção na Líbia, no mês de março de 2 011. Mas quando esta intervenção se transformou num projeto de mudança de regime, a China não quis fazer a mesma coisa na Síria. Porquê?

O motivo é que a China sempre foi uma defensora resoluta do princípio da não ingerência nos assuntos dos estados, no quadro das relações internacionais. A China considera que caso se torne costumeiro intervir em assuntos externos, esse intervencionismo poderia tornar-se num incidente problemático para elea própria.

O chefe de estado chinês, Xi Jinping, realizou um periplo pelo Médio Oriente, tendo visitado a Arábia Saudita, o Egito e o Irão. Na realidade, esta visita deveria ter acontecido no ano passado, no mês de abril, e não era suposto ter incluído o Irão. Esta viagem foi nessa altura adiada, para evitar que pudesse ser interpretada como uma aprovação da intervenção dirigida pela Arábia Saudita no Iémen. O plano de viagem original também não incluía a visita ao Irão. A execução do líder religioso xiita Nimr al-Nimr por parte do regime saudita, representou também um dilema para a China, tal como tinha acontecido em abril do ano passado. Xi Jinping ultrapassou esta situação, adicionando o Irão à lista de países na sua visita.

A colocação do Irão no programa de viagem do Médio Oriente, deu uma mensagem de imparcialidade na tensão regional entre o Irão e a Arábia Saudita. Da mesma forma, a visita teve uma importância particular após o levantamento das sanções ao Irão.

Para evitar uma eventual reação por parte dos sauditas contra a visita ao Irão no âmbito desta turnê pelo Médio Oriente, Xi Jinping fez uma declaração de apoio à soberania do governo do Iémen. Contudo, os termos da declaração foram cuidadosamente escolhidos por forma a não serem percebidos como um apoio à intervenção dirigida pela Arábia Saudita.

A atitude adotada por Xi Jinping ao longo desta visita, foi diferente da posição habitual da China a favor da não ingerência.

Esta diferença, não teve lugar unicamente para garantir os interesses comerciais da China. Para este país, o Médio Oriente é importante ao ponto do assunto não poder ser deixado para outros. O envolvimento da região no caos, teria um custo insuportável para a China.

A consequência de tudo isto, concretiza-se nos passos dados pela China, que deixou para trás a sua política de não ingerência. Num contexto em que os Estados Unidos e a Rússia não jogam um papel estabilizador entre o Irão e a Arábia Saudita, a China implicou-se diretamente para preencher esse vazio, e enquanto potência tentou manter boas relações com ambos os países. A China quer evitar uma guerra quente que pudesse afetar a sua economia, na sequência da perturbação do fornecimento de petróleo do Médio Oriente.

Este periplo tem assim uma grande importância no reforço da iniciativa “Uma geração, uma rota”, posta em prática pela China. Este é o nome dado ao mais ambicioso projeto de desenvolvimento económico jamais levado a cabo na história. Neste âmbito, a China tem a oportunidade de se abrir a novos mercados na Ásia e na Europa, ao mesmo tempo que oferece oportunidades a muitos países, incluindo o Médio Oriente. A China quer fazer baixar a tensão na região e criar uma situação de ganho para todas as partes, tanto ao nível comercial como económico, através da abertura de todas as economias e da criação de relações de dependência recíproca.

O “Relatório sobre a Política Árabe da China”, publicado antes da visita do presidente chinês, suscitou a convicção do seguimente de objetivos prudentes. Efetivamente, a abordagem adotada por Xi Jinping a favor do estabelecimento de parcerias estratégicas enquanto elemento estabilizador, são um indicador de que a China vai assumir a partir de agora iniciativas sem tomar parte nas tensões regiões.

Fica por aqui o programa de hoje, contamos consigo na próxima edição de A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente. Até lá, fique bem.



Notícias relacionadas