A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente

O Alto Conselho para as negociações (HCN) formado por membros da oposição síria, fez saber que o regime e os seus aliados tinham violado o cessar fogo por 15 vezes, desde o primeiro dia.

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A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente

A paragem das hostilidades entre a Rússia e os Estados Unidos na Síria, comummente designada por cessar fogo, entrou em vigor desde o dia 27 de fevereiro. Contudo, desde o primeiro dia que têm surgido queixas regulares de violações ao cessar fogo. O Alto Conselho para as Negociações (HCN), formado por membros da oposição síria, fez saber que o regime e os seus aliados tinham violado o cessar fogo por 15 vezes, desde o primeiro dia da entrada em vigor do acordo. Paralelamente, o Observatório Sírio para os Direitos Humanos – baseado no Reino Unido – informou que os aviões de caça tinham atacado seis locais em Alepo.

A França e a Arábia Saudita também expressaram as suas queixas relativamente a violações do cessar fogo. Numa declaração feita no dia 2 de março, a rede síria de defesa dos direitos humanos, indicou que o cessar fogo foi violado 145 vezes, desde o dia em que entrou em vigor. Apesar desta situação, os Estados Unidos e as Nações Unidas concentram-se apenas na redução da intensidade do conflito, e consideram que a situação após a entrada em vigor do cessar fogo, é em grande parte positiva.

O facto de existirem queixas relativamente ao cessar fogo, não é por si mesmo algo chocante. Isto, porque do ponto de vista do seu conteúdo, o cessar fogo acarreta particularidades que o tornam facilmente provisório. Antes de mais, a Rússia e o regime de Assad afirmam que reservam o direito de atacar as forças que eles consideram estar fora do cessar fogo. Não há qualquer dúvida de que se estão a referir ao DAESH e a Frente Al Nusra. No entanto, há qualquer coisa que torna a situação ambígua.

Os pequenos grupos cooperam entre si e têm relações ambíguas, com o objetivo de se reforçar face ao inimigo mais forte, bem como face ao regime e aos seus aliados. E é esta cooperação que dá à Rússia e às forças do regime a possibilidade de dizer que estão sempre a comportar-se no âmbito do cessar fogo, quando na realidade o estão a violar.

Em segundo lugar, a maior parte das forças que lutam contra o regime, respeitam o cessar fogo. De acordo com uma lista apresentada à Rússia pelos Estados Unidos, estas forças são compostas por mais de 70 grupos. Mas, para uma dezena de pequenos grupos, o cessar fogo não tem grande significado. Além disso, nós sabemos que existem até grupos com interesses na continuação do conflito, devido às oportunidades que este oferece em termos de contrabando e de mercado clandestino. Esta situação figura entre os factores que diminuem a possibilidade do cessar fogo poder durar muito tempo.

A Rússia e a Síria, lucram com a existência destes grupos, que levam a cabo operações que eles apoiam e que violam o cessar fogo. E no final, a Rússia e a Síria ainda usam estes grupos como desculpa para continuarem as suas próprias operações.

Ainda que as operações da Rússia e do regime de Assad contra estes grupos sejam de pouca envergadura e possam assentar em razões, digamos que válidas, isso representa uma provocação para os grupos que decidiram respeitar o cessar fogo. E como consequência, até as operações levadas a cabo com razões válidas, podem fazer reagir os grupos da oposição que decidiram alinhar pelo cessar fogo, levando-os a pegar novamente em armas. O quadro que se pinta à nossa frente, não é por isso nada claro, sendo confusa a situação em termos dos vários grupos que dominam as diversas partes do território.

Estes grupos, que lutam contra o regime num grande número de regiões, podem por vezes lutar uns contra os outros. E como consequência, mesmo que apenas um determinado grupo seja visado pelas operações, uma operação que envolva outros grupos é praticamente impossível. E isso é por si mesmo capaz de fazer cair o cessar fogo, caso continuem estas operações.

É possível multiplicar os cenários realistas que possam levar ao fim do cessar fogo. A totalidade destes possíveis cenários mostra que o cessar fogo que entrou em vigor no dia 27 de fevereiro é muito frágil. Fica então a pergunta: Será que este cessar fogo, que é o fruto dos avanços alcançados no final de setembro de 2 015, foi planeado para ser violado pela Rússia ou para que outros o violem?

Será que o cessar fogo, que devia ter sido anunciado no dia 11 de fevereiro, não avançou nesse momento porque a Rússia ainda estava nessa altura a levar a cabo as suas operações?

Aqueles que pensam que a Rússia terá necessariamente a tendência para violar novamente o cessar fogo, classificam o atual cessar fogo como sendo uma fantasia. Mas é preciso não negligenciar uma coisa: A Rússia, que alcançou uma situação vantajosa no terreno, foi a parte que exigiu o anúncio do cessar fogo.

O desejo da Rússia, não é outro que não lançar areia para os olhos do mundo, e de pôr fim à crise síria em pouco tempo com os avanços obtidos com a sua força devastadora, e desta forma passar uma mensagem aos Estados Unidos e à Europa, que nunca foram tão determinados como Moscovo.

É óbvio que a Rússia vai usar o cessar fogo para abrir a via para uma pré-etapa que conduza à mesa das negociações, em que a Rússia terá a mão mais forte.

Termina assim mais uma edição do programa A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente, da TRT Voz da Turquia. Esperamos que tenha gostado de estar na nossa companhia, e contamos consigo na próxima edição do programa. Até lá, fique bem.



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