Agenda da Turquia e do Mundo

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Agenda da Turquia e do Mundo

Arrastando-se há cerca de 4 anos, a Guerra civil na Síria não é obviamente apenas um problema sírio.

As forças que querem substituir Assad e o regime Baath na Síria, bem como aqueles que pretendem manter o status quo, sempre tiveram planos para o futuro do Médio Oriente

Esta é basicamente a razão pela qual a guerra na Síria não chega ao fim, e pelo contrário se intensifica e alastra. O problema sírio é, em sentido mais estrito, um problema do Médio Oriente. Mas em sentido mais lato, tornou-se um problema global. Por outras palavras, a guerra civil na Síria é uma guerra indireta entre os gigantes globais, que buscam poder alargar a sua esfera de influência.

A prova mais clara disto mesmo é a lista de participantes na conferência de paz que se reuniu em Viena a 6 de novembro. Se a guerra síria fosse apenas um problema doméstico, não estariam presentes nesta conferência países como os Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Turquia, Arábia Saudita, Egito, Qatar, Jordânia, Líbano, Irão, Iraque, Omã e os Emirados Árabes Unidos.

A conferência de dois dias em Viena contou com a participação de responsáveis relevantes. Na primeira ronda não foi possível chegar a acordo, pelo que foi agendada uma nova reunião para 15 dias mais tarde. Isto mostra bem a complexidade do problema. Tudo o que permitir parar a guerra e chegar a um acordo de paz, terá impacto não apenas na Síria, mas também em todo o futuro do Médio Oriente.

Já a seguir, ficaremos a conhecer o comentário sobre este tema do Prof. Dr. Ramazan Gozen, um membro académico do Departamento de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade de Marmara.

A conferência de paz de Viena faz lembrar as duas grandes conferências do século passado, que definiram o futuro do Médio Oriente. A primeira conferência de paz teve lugar em Paris entre 1 919 e 1 920, e dela saiu um tratado. A outra teve lugar em Madrid, e reuniu-se a 30 de outubro de 1 991, após a guerra entre o Iraque e o Kuwait em 1 990-1 991.

A conferência de Paris desenhou o mapa do Médio Oriente, liquidando o império otomano e substituindo-o por novos países. Já a conferência de Madrid, fez novos acordos para resolver a questão palestiniana e garantir um processo de paz entre árabes e israelitas.

Olhando para trás, nenhuma conferência correu bem. A conferência de Paris não conseguiu alcançar um resultado positivo durante o último século no Médio Oriente. E as iniciativas na Conferência de Madrid também não trouxeram uma solução permanente e definitiva para a questão palestiniana.

As resoluções tomadas nestas duas importantes conferências não alcançaram os objetivos esperados. E a guerra na Síria pode ser considerada como uma das suas consequências.

A conferência de Paris criou fronteiras e regimes artificiais na região, e a Conferência de Madrid não incluiu a Síria no processo de paz. Estes são dois dos motivos da guerra civil na Síria. A Conferência de Paris constituiu a base do regime minoritário de Nusayri e para o reinado Baath na Síria. E a Conferência de Madrid impediu uma solução para a questão palestiniana por causa da ocupação israelita.

Estes dois fatores, o regime totalitário na Síria e a questão palestiniana, devem ser tomados em consideração ao ser redefinida a nova Síria. A primeira ordem de trabalhos para as potências mundiais e atores regionais que se reuniram em Viena, será naturalmente pôr fim à guerra e assegurar a paz. Nesse sentido, devem ser criados um novo estado e um novo regime na Síria. Têm também que parar as armas, com o fim do conflito armado entre o regime de Assad e a oposição. Terão também que ser expulsos do país grupos terroristas como o Daesh.

Se haverá ou não lugar para Assad na nova Síria, é uma questão em aberto. Mas o grande tema de discórdia entre os poderes globais e regionais é o novo modelo da Síria e do Médio Oriente no futuro.

Num dos lados da disputa está o bloco democrático do ocidente, composto pelos Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Turquia, Arábia Saudita e Qatar. Do outro está o lado autoritário oriental, composto por países como a Rússia, a China, o Iraque e o Irão.

Outro tema importante a ter em conta na questão síria, é o conflito sectário entre a Arábia Saudita e o Irão. Naturalmente, a competição entre estes dois blocos inclui também outros elementos geopolíticos e geoestratégicos, energia (gás e petróleo), economia, zonas de influência, indústria de armamento, prestígio e imagem.

De facto, apesar de não se contarem entre os países presentes no processo de paz na Síria, a paz no país não pode ser alcançada sem que se considere o problema israelo-palestiniano. Desde 1 948, e em particular desde 1 956, um dos focos do problema tem sido o Egito e o outro tem sido Israel. Tal como dito por Henry Kissinger “Não é possível fazer a guerra no Médio Oriente sem o Egito e não se pode fazer a paz sem a Síria”.

Em conclusão, considerando a história e a dinâmica dos acontecimentos recentes, a Conferência de Viena tem o potencial para redefinir o Médio Oriente e não apenas a Síria. As conversações de Viena são historicamente tão significativas como as conferências de Paris e Madrid. Tem que se ter em conta que para se chegar à paz na Síria e no Médio Oriente, a equação étnica ou sectária tem que ser levada em linha de conta com muito cuidado. A nova Síria e a região devem ser democráticas e ter fronteiras realistas adequadas às realidades da região. Não se deve apostar novamente em novas estruturas e fronteiras artificiais que afetem as fronteiras regionais. Os erros feitos no início do século XX não podem ser repetidos no início do século XXI.


Foi o comentário sobre este tema do Prof. Dr. Ramazan Gozen, um membro académico do Departamento de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade de Marmara.


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