Visita do Hezbollah pode afetar os laços entre Egito e os sauditas

Uma delegação de três membros do grupo xiita libanês visitou o Cairo no início desta semana para oferecer condolências pela morte do jornalista Hassanein Heikal

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Visita do Hezbollah pode afetar os laços entre Egito e os sauditas

A recente visita de uma delegação do Hezbollah ao Egito para oferecer condolências pela morte do proeminente jornalista Mohamed Hassanein Heikal, pode ter lançado uma sombra sobre as relações do Cairo com o aliado da Arábia Saudita.

Foi a primeira visita do grupo desde o levante popular que depôs o autocrata de longa data Hosni Mubarak, em 2011.

Autoridades egípcias acusaram o Hezbollah de conspirar para realizar "ataques terroristas" no Egito durante a revolta anti-Mubarak.

"A visita é susceptível de causar complicações com a Arábia Saudita se a delegação [do Hezbollah] encontrar-se com funcionários egípcios", disse o analista político Hassan Nafaa à agência Anadolu.

Na semana passada, a Arábia Saudita cancelou uma concessão que havia prometido de US$ 3 bilhões ao exército libanês e um US$ 1 bilhão adicional para as forças de segurança internas do país.

A Arábia Saudita acusa o Hezbollah de servir como um representante do Irã. Desde 2012, o Hezbollah enviou combatentes para a Síria para apoiar o regime de Assad, um aliado próximo de Teerã. Riade, entretanto, continua sendo um dos inimigos mais ferrenhos de Assad.

O Hezbollah denunciou a intervenção militar saudita no Iêmen, onde Riade está liderando uma campanha aérea feroz contra o grupo militante xiita dos Houthis.

Mediação

Nafaa acredita que "a posição egípcia não deve ser percebida como se fosse uma espécie de suporte para Assad, o Hezbollah, o Irã ou a Síria", disse ele. "A posição egípcia sobre o conflito sírio não é totalmente compreendida pela Arábia Saudita. O Egito teme divisão da Síria", disse Nafaa.

O Egito está pedindo uma solução política para o conflito sírio, que caiu em uma guerra civil em 2011, após o regime de Assad reprimir os protestos pró-democracia com uma ferocidade inesperada.

O Egito também apóia os ataques aéreos russos na Síria, outro ponto de discórdia com Riade.

Quanto à recente crise entre Riade e Beirute, Nafaa disse que o Egito desempenha um papel importante na resolução de conflitos inter-árabes.

"Em termos da crise Arábe-Libanês, o papel do Egito depende da sensibilidade das relações entre todas as partes, e se a mediação egípcia será recebida por todos", disse ele.

Sem efeitos

O especialista militar Mohamed Ali Belal disse à agência Anadolu que "a visita não dará início a qualquer mudança na política egípcia em direção ao Hezbollah."

Belal também descartou a realização de qualquer reunião oficial entre a delegação do Hezbollah e as autoridades egípcias no Cairo.

"Não há nenhuma aproximação entre o Egito e o Hezbollah", disse ele. "O Egito não vai impedir ninguém de oferecer condolências pela morte de um dos jornalistas mais importantes do mundo árabe", acrescentou, em referência à Heikal.


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