Hagia Sofia: uma testemunha dos séculos

Bem-vindos ao programa “Türkiye: Um Encontro entre o Ocidente e o Oriente”! Em cada episódio, trazemos um tema diferente que pode ser do interesse de estrangeiros que desejam visitar, morar ou simplesmente para aqueles que admiram a Türkiye e querem conhecer mais sobre esse país tão especial. Desde o início deste programa, temos dado destaque à palavra “história”, pois é impossível falar da Türkiye sem mencionar tudo o que esta terra já testemunhou ao longo dos séculos, com suas inúmeras camadas históricas e culturais. Hoje, vamos conhecer um pouco mais sobre a Hagia Sofia – um dos lugares mais emblemáticos do país, que não pode ficar de fora quando falamos sobre a história da Türkiye e de Istambul.

A Hagia Sofia, que significa “Santa Sabedoria”, localizada no coração de Istambul, é uma das estruturas arquitetônicas mais grandiosas e icônicas do mundo, projetada pelos arquitetos Antêmio de Trales e Isidoro de Mileto. Originalmente construída como a catedral central de Constantinopla no século IV pelo imperador Constâncio II, a Hagia Sofia enfrentou incêndios que destruíram as suas primeiras versões de madeira. No século V, sob o imperador Teodósio II, a igreja foi reconstruída, mas novamente sucumbiu ao fogo. Foi em 537 d.C. que o imperador bizantino Justiniano I reconstruiu a Hagia Sofia na forma que conhecemos hoje. Ele acreditava que fortalecer a sua imagem e o seu império passava pela grandiosidade desta catedral e pela cidade de Constantinopla como um todo. Apesar de várias restaurações e modificações ao longo dos séculos, a estrutura de Justiniano resistiu ao tempo.

Constantinopla, como a cidade imperial do Império Bizantino e sede da Igreja Ortodoxa Oriental, viu a Hagia Sofia ser convertida em uma igreja católica durante a Quarta Cruzada em 1204. No entanto, em 1261, a catedral foi restabelecida como uma igreja ortodoxa. Mais uma mudança monumental ocorreu em 1453, quando Constantinopla caiu sob o domínio do Império Otomano, liderado por Mehmed II, o Conquistador.  Essa vitória marcou o fim de um dos impérios mais duradouros da história, o Império Bizantino, e o início de uma nova era sob o domínio otomano. Para os otomanos, Constantinopla era mais do que apenas uma conquista militar; era o símbolo de seu triunfo e a realização de um sonho antigo de expandir o seu império para o Ocidente.

Ao converter a Hagia Sofia em uma mesquita, Mehmed II integrou o legado bizantino ao otomano, adicionando minaretes e elementos islâmicos, como o mihrab e o minbar, sem destruir os mosaicos cristãos, que foram cobertos. Essas adaptações criaram uma fusão única de arte e arquitetura, refletindo a nova identidade multicultural de Istambul. A Hagia Sofia se tornou um símbolo de poder e continuidade, onde o legado cristão e o domínio islâmico coexistiam em harmonia. Sob o domínio otomano, a Hagia Sofia não só serviu como uma das mesquitas mais importantes, mas também influenciou a arquitetura otomana, marcando a ascensão do Império Otomano e estabelecendo Istambul como um ponto de encontro entre o Oriente e o Ocidente.

Em 1935, a Hagia Sofia foi secularizada e transformada num museu por Mustafa Kemal Atatürk, fundador da moderna República da Türkiye. Assim permaneceu até julho de 2020, quando o atual presidente, Recep Tayyip Erdoğan, decidiu converter a Hagia Sofia de volta em uma mesquita. Hoje, ela recebe visitantes de todo o mundo em horários específicos, quando não há orações acontecendo, e mantém-se acessível para pessoas de todas as religiões e culturas.

Definitivamente, essa é a história de um testemunho poderoso da capacidade humana de unir diferentes épocas, culturas e crenças. De catedral a mesquita, e depois a museu e de volta a mesquita, cada transformação revela a rica tapeçaria da história de Istambul. Ela simboliza a fusão do Ocidente e do Oriente, refletindo a união entre tradições e modernidade. Visitar a Hagia Sofia é mergulhar numa jornada que celebra a continuidade, adaptação e grandiosidade da experiência humana, oferecendo uma profunda inspiração e conexão com o passado e o presente.

Este programa foi redigido por Victoria Cordeiro