Aliza Izetbegovic: é tempo de recordar!

Aliza Izetbegovc foi um lider que dedicou a sua vida ao islão, num século em que a ideia de islão quase deixou de ser uma alternativa. A análise do Prof. Dr. Kudret Bulbul, decano da Faculdade de Ciências Políticas da Universidade Yilidirim Beyazit.

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Aliza Izetbegovic: é tempo de recordar!

Perspetiva Global 43

O século XX trouxe várias vagas de vento para os muçulmanos, em que os bairros foram ocupados um a um e em que as mortes, a pressão e a brutalidade foram exercidas sobre os muçulmanos. Aliza Izetbegovic é um dos nomes únicos que ofereceram à humanidade a beleza desta civilização num século com tantos obstáculos. Izetbegovc foi um lider que dedicou a sua vida ao islão, num século em que a ideia de islão quase deixou de ser uma alternativa´.

Os seus anos de juventude e os primeiros anos na prisão: Mladi Muslimani (Jovens Muçulmanos)

Aliza Izetbegovic nasceu em 1 925 como neto de uma avó turca Siddika, com o mesmo nome do seu avô, quando este cumpria o seu serviço militar em Uskudar, em Istambul. Talvez por isso mesmo sinto muitas coisas semelhantes a Aliza, quando visito Uskudar, um dos bairros mais históricos e puros de Istambul: serenidade, maturidade, sabedoria e elegância, que decorrem da profundidade da sua história.

Os anos de natação nos seus primeiros anos de juventude, aconteceram talvez no período mais turbulento da história. Entre o final da I Guerra Mundial e a II Guerra Mundial. Foram anos muito complicados e brutais em geral, e para os muçulmanos dos Balcãs em particular.

Os vencedores da II Guerra Mundial foram a Rússia de Estaline, governada no sistema comunista, e o Ocidente que derrotou o fascismo e o nazismo.

O islão deixou de ser uma alternativa desde há 200 anos, em particular nos Balcãs, com o recuo e a derrota do império otomano. Foi neste contexto que Aliza começou com os seus amigos o movimento “Mladi Muslimani” (Jovens Muçulmanos), ainda durante os anos de liceu. A criação deste movimento por um lado tentava criar uma consciência islâmica entre os seus membros, e por outro ajudava a curar as feridas da guerra. Mas estes esforços não foram bem recebidos pelo regime ateísta e comunista na região onde vivia. Aliza foi condenado a 5 anos de prisão ainda nos primeiros anos da sua juventude.

Aliza entre o Oriente e o Ocidente

Depois de passar 5 anos na prisão, Aliza voltou a fazer esforços a favor do seu povo e da humanidade. Por um lado manteve a sua vida quotidiana, e por outro fez esforços intelectuais para superar os problemas espirituais da época. O seu estudo intitulado “Islão entre o Oriente e o Ocidente”, é uma crítica contra o Oriente e o Ocidente, no âmbito da visão mais ampla de Izetbegovic sobre o islão. Mas este estudo foi também um apelo à convivência entre o Oriente e o Ocidente. Por um lado, aprecia os desenvolvimentos positivos no Ocidente, mas por outro também o critica:

“Quando viajo pela Europa não me envergonho, porque não matamos as crianças, as mulheres e os velhos, e não atacamos nenhum lugar sagrado. Mas eles fizeram tudo isto, diante de todos os olhos do Ocidente e em nome da civilização do Ocidente”.

Segundo Aliza Izetbegovc, os principais problemas do mundo islâmico são a desconexão, a falta de educação e a diferença entre o que se diz e o que se faz. Aliza, por um lado diz que “para mim o islão é o nome de tudo o que temos de belo e nobre”. Mas esta sua expressão é um apelo para que os muçulmanos olhem para si próprios: “é uma verdade que o islão é o melhor, mas nós, os muçulmanos, não somos os melhores. Isto são duas coisas diferentes que muitas vezes misturamos”. E perante isto, Aliza Izetbegovc apresentou uma solução: “para nos transformarmos em professores da terra de baixo, antes temos que ser estudantes do céu de cima”.

Os anos de guerra…

Aliza voltou a ser preso mais uma vez pelas suas ideias, depois de escrever o livro “A Declaração Islâmica”, antes da desintegração dos Balcãs. Aliza Izetbegovc foi condenado a 14 anos de prisão, mas acabou por ser libertado 5 anos mais tarde, em 1 988, devido a uma amnistia. E pouco depois criou o Partido da Ação Democrática em 1 990. Aliza foi o primeiro presidente do seu país depois das eleições, quando a Bósnia Herzegovina declarou a sua independência da Jugoslávia em 1 992.

O Ocidente, que antes apoiou a luta pela independência da Croácia e da Eslovénia, deixou os bósnios sozinhos perante os ataques sérvios, com a hipocrisia com que sempre o faz. O resultado foram centenas de mortos, feridos, a emigração, a fome, o sangue e a brutalidade. Os bósnios foram sujeitos a um genocídio aberto na Europa perante os olhos da humanidade, no final do século XX.

Aliza Izetbegovc tornou-se num lider mundialmente conhecido durante os anos de guerra. Aliza mostrou a todo o mundo como se organiza uma resistência humana e muçulmana, com a sabedoria das ideias do islão, apesar de todos os ataques e das insuficiências. As suas respostas contra as reações rebeldes das pessoas contra os sérvios, que assassinaram as mulheres bósnias, as crianças e os velhos, e que por isso queriam vingar-se, foram de acordo com as regras de ouro da moralidade da guerra:

“Temos uma única dívida perante os nossos inimigos: Justiça”

“Os sérvios não são nossos professores”

“Perdemos a guerra quando nos portamos como o inimigo”

A resposta de Aliza Izetbegovc à pergunta de um jornalista alemão durante a guerra, que lhe perguntou “porque é que não ordenou a vingança contra essa enorme brutalidade, por parte da civilização ocidental?”, é um exemplo da forma como adotou a ideia do islão: “o meu livro sagrado, o Corão, não o permite”.

Se as ideias de Aliza Izetbegovc estão em falta na Bósnia, não é pela falta de Aliza ou das duas ideias, mas sim porque o mundo contemporâneo, liderado pelos Estados Unidos, não consegue aceitar uma sociedade e um estado muçulmano no centro da Europa.

A sua herança…

“Enterraram-nos. Mas não sabiam que somos sementes”.

Aliza Izetbegovc podia usar esta expressão para os Balcãs. Mas esta expressão representa a história de 200 anos dos muçulmanos. Infelizmente, não tivemos muitos líderes que possam desabrochar como uma flor, durante o período de declínio de 200 anos. Como dissemos antes nos nossos programas “qual o tipo de posicionamento que deveremos adotar contra o Ocidente?”. Apenas os líderes com sentido comum, que fazem uma abordagem analítica e que acolhem as críticas, podem propôr uma via de solução.

Aliza Izetbegovc é um dos únicos nomes que se focam na mensagem passada pelo islão às pessoas desta época, como Said Halim Pasha, Iqbal, Akif e Rachid Ghanuchi. Os líderes que se dispersam entre um erro e outro, sob a pressão e as brutalidades, e cuja visão não consegue ir além do seu país e do povo, não podem oferecer muita coisa à sociedade.

Não apenas os muçulmanos mas também o mundo, precisa muito de líderes como Aliza Izetbegovic, sempre em busca da justiça e que saibam falar com serenidade, maturidade, sabedoria e elegância as ideias do islão, em vez de uma imagem de ódio, apesar das muitas brutalidades que os muçulmanos se enfrentam.

Esta foi a opinião sobre este assunto do Prof. Dr. Kudret Bulbul, decano da Faculdade de Ciências Políticas da Universidade Yilidirim Beyazit, em Ancara



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