A política da China na América Latina

Com uma ou outra alteração, a China segue na América Latina a mesma política que adotou em África. A análise de Mehmet Ozkan, membro do corpo académico da Academia de Polícia, e coordenador para a América Latina da TIKA.

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A política da China na América Latina

A Atualidade da América Latina – Capítulo 24

Da mesma forma que as atividades do Irão na América Latina foram alvo de atenção no final da década de 2 000, por porem em causa a supremacia do Ocidente no continente, passa-se agora o mesmo com a China. Desde que o presidente chinês Xi Jinping chegou ao poder em 2 013, já visitou a América Latina por 3 vezes.

O volume de comércio entre a China e os países da América Latina aumentou 22 vezes desde o ano 2 000, fazendo com que a China já seja o segundo maior parceiro comercial da América Latina, só atrás dos Estados Unidos. Até recentemente, o segundo maior parceiro comercial da América Latina era a Europa.

Qual é o futuro da China no continente?

Por que motivo a China segue uma política agressiva em relação à América Latina? É preciso desde logo dizer de antemão, que a China já está de estômago cheio com África. Nos últimos 10 anos, tem-se dito que a China aprofundou a sua rede de relações com África, ao ponto de quase ter comprado alguns países. A China aumentou a sua presença em África e procura novos mercados e novas áreas para se expandir. Quando se tem em conta que aumentaram os problemas de alguns países da América Latina com o Ocidente, torna-se mais fácil explicar o rápido aumento das relações entre a China e a América Latina.

O segundo motivo por detrás do interesse chinês em relação à América Latina, é a questão de Taiwan. O estado de Taiwan está representado em 12 países do continente, com os quais mantém relações oficiais. A China, através da sua política agressiva, desenvolve as suas relações comerciais e promete oferecer mais coisas aos países da América Latina, em comparação com o que pode oferecer Taiwan.

Com uma ou outra alteração, a China segue na América Latina a mesma política que adotou em África. A tática seguida é quase sempre a mesma: a China orienta as suas operações sobretudo para os pequenos países, com pouca população, e que tenham relações problemáticas com o Ocidente. A China quer controlar tudo o que se passa nestes países ao nível das suas questões vitais, para assim poder manter a sua máxima presença e influência. Esta é a política chinesa. Pequim oferece ajuda financeira, e ainda valores económicos e estratégicos, como a construção do Aeroporto de Harare no Zimbabué. E está a fazer o mesmo no Equador. O Equador é um país com costa no Oceano Pacífico e com uma população de 15 milhões de pessoas. A sua proximidade física em relação à Colômbia e o facto de ter resolvido os seus problemas anteriores com o Peru, são desenvolvimentos positivos.

O foco do cenário que se verifica recentemente na América Latina, é o investimento dos Estados Unidos e dos países ocidentais, com base no processo de paz na Colômbia. Hoje em dia, existem 7 bases militares americanas na Colômbia. Nalguns momentos, a paz na Colômbia foi mais desejada pelos países ocidentais do que pelos próprios colombianos. Desde a entrega do Prémio Nobel da Paz ao ex-presidente colombiano Juan Manuel Santos, em 2 016, todos têm tido como objetivo o estabelecimento da paz na Colômbia. A UE criou até um fundo de paz para o país.

A chegada da paz à Colômbia, de uma certa forma ficará para a história como um acontecimento com um final feliz, tal como aconteceu com o Brasil. E por isso, este processo na Colômbia é um foco de atenção do Ocidente.

A China, realiza investimentos no Equador de forma interessante, e também está de olhos postos na Colômbia. A maior parte das lojas nos locais de alojamento temporário da população no Equador, após o sismo na costa do país em abril – são lojas chinesas. Atualmente, e tendo como contrapartida a compra do petróleo do Equador para os próximos anos, a China está a reconstruir todas as escolas danificadas na zona do terramoto. Em fevereiro do próximo ano, haverá eleições no Equador. E a presença da China sente-se a todos os níveis da economia, e é vista pelo poder político do país como a única forma de superar a crise económica.

Ainda é cedo para dizer alguma coisa sobre até onde irá a guerra geopolítica no continente. Mas esta equação, com a China e o Equador de um lado e o Ocidente e a Colômbia do outro, é uma realidade. E ambas as partes estão a fazer grandes investimentos.

Em 2 017, houve eleições no Equador e foi eleito o novo presidente do país, Lenin Moreno. Desde a sua chegada ao poder, ele está a tentar reduzir a influência da China no país. A presença chinesa na América Latina, é uma situação sobre a qual se deve falar e deve ser seguida de muito perto nos próximos tempos. Caso a China consiga desafiar seriamente o domínio dos Estados Unidos neste continente, as consequências desta situação não serão as mesmas que em África.

Em 1 993, os Estados Unidos decidiram sair da Somália, depois dos seus soldados serem arrastados pelas ruas de Mogadíscio, após o seu helicóptero ter sido derrubado. Esta situação não se alterou, nem quando os Estados Unidos tiveram um presidente de origem africana. Mas os Estados Unidos nunca irão abandonar a América Latina.

Desde as questões de segurança passando por muitas outras, a política dos Estados Unidos para a América Latina nunca será a mesma que seguem em África. Por isso, o aumento da influência da China sobre o continente e a reação dos Estados Unidos a esta situação no médio prazo, terá um impacto regional e global e fará parte de um processo sistemático. Teremos portanto pela frente desenvolvimentos interessantes no futuro.

Esta foi a opinião sobre este assunto de Mehmet Ozkan, membro do corpo académico da Academia de Polícia da Turquia, e coordenador para a América Latina da Agência de Cooperação e Coordenação da Turquia (TIKA)



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