O Manifesto Eleitoral do Presidente Erdogan e a Política Externa

O manifesto de Erdogan deixa claro que a Turquia não aceita ser a servidora de ninguém, nem permite que outros sejam seus servidores

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O Manifesto Eleitoral do Presidente Erdogan e a Política Externa

Apresentamos a análise de Can ACUN, pesquisador da Fundação para Estudos em Política, Economia e Sociedade, SETA.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, anunciou o manifesto eleitoral para 24J de si mesmo e do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (Partido AK). O manifesto eleitoral inclui muitos compromissos do presidente e do seu partido em relação à economia, saúde e política interna. Além disso, revela os desafios e os métodos da Turquia em sua política externa se o presidente Erdogan for reeleito nas eleições de 24 de junho.

Obviamente, uma das prioridades da Turquia na política externa será a luta contra o terrorismo. A declaração do presidente Erdogan logo após a tentativa de golpe de 15 de julho apontou para a luta contra o terrorismo. As Forças Armadas Turcas (FAS) expurgaram o DAESH da fronteira turca na Operação Escudo de Eufrates; Em seguida, neutralizou elementos do grupo terrorista PKK / YPG em Afrin graças à Operação Ramo de Oliveira. O Escudo de Eufrates demonstrou a exatidão da nova atitude da Turquia na luta contra o terrorismo, devido ao fato de que não houve ataques do DAESH no país por um longo tempo. A pressão das forças de segurança e inteligência contra o terrorismo no território turco impediu muitos possíveis ataques terroristas.

Da mesma forma, a Operação Ramo de Oliveira impediu que o grupo terrorista PKK/YPG infriltrasse-se na região de Hatay, através da Serra de Amanos. Espera-se que outras operações transfronteiriças sejam realizadas após as eleições de 24J, conforme contemplado pelo manifesto eleitoral do presidente. Previsivelmente, as operações militares com o grupo terrorista PKK no Iraque poderiam continuar aumentando.

 O manifesto de Erdogan deixa claro que a Turquia não aceita ser a serva de ninguém, nem permite que outros sejam seus servos. Entretanto, esta posição da Turquia enfureceu muitos países ocidentais, mas a política externa independente da Turquia que apóia os interesses nacionais em todo o mundo continuará. O fato de o presidente definir a Turquia como um ator global destaca claramente os objetivos do país. A Turquia rejeita qualquer relação de servidão. Isto é demonstrado pela sua política em relação a África baseada numa relação respeitosa e para fins de ajuda em vez de colonização. A evidência da sua política externa humanitária é que a Turquia é o país que mais fornece ajuda humanitária, de acordo com o seu PIB no mundo.

Temos de reduzir a dependência da Turquia em relação aos países estrangeiros e aumentar a sua importância estratégica para que o país possa se desenvolver e ter uma política externa eficiente. Portanto, a indústria de defesa da Turquia é de grande importância. Não obstante, a indústria de defesa tem um papel crucial no manifesto de Erdogan. A Turquia ocupa a 18ª posição entre os países que mais exportam armas e aumentou em 90% a sua exportação de produtos de defesa desde 2011. Além disso, conseguiu baixar de 80% para 30% a sua dependência em relação a outros países. Está previsto um certo crescimento na indústria de defesa. A Turquia alcançou o sucesso mundial na produção de UAVs. É um dos seis países que podem produzir seus próprios UAVs sem armas. A declaração do presidente (vamos produzir tanques de combate não tripulados) mostra que a Turquia é um ator elementar que produz ideias e novidades em tecnologias em grande escala.

A potencialização da indústria de defesa turca multiplica a influência da Turquia na política externa. Convertida em uma alternativa importante na aquisição de armas para os países aliados e amigos. A Turquia está presente no mercado internacional. Exporta veículos blindados para a África, Ásia Central e Malásia. As vendas dos helicópteros ATAK e buques de guerra para o Paquistão e os UAVs Bayraktar TB2 para o Qatar fortalecem a economia e os estudos em investigação e desenvolvimento tecnológico (I&D).

Esta foi a análise de Can ACUN, pesquisador da Fundação para Estudos em Política, Economia e Sociedade, SETA.



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