Uma nova fase da luta da Turquia contra o terrorismo: a Operação Ramo de Oliveira

A primeira etapa deu indicações sobre uma intervenção militar de grande envergadura contra o terrorismo do PKK em Afrin. A análise de Can Acun, investigador da SETA - Fundação de Estudos Políticos, Económicos e Sociais.

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Uma nova fase da luta da Turquia contra o terrorismo: a Operação Ramo de Oliveira

Desde há algum tempo que a Turquia se tem vindo a preparar para uma operação militar de grande envergadura contra o PYD/YPG, o braço do grupo terrorista PKK na Síria. Este grupo constitui uma séria ameaça contra a segurança nacional da Turquia e para a integridade territorial da Síria. A Turquia pôs-se em marcha por Afrin, o ponto mais ocidental do corredor terrorista. As Forças Armadas da Turquia enviaram as suas unidades para a região, concentrando-se em Idlib, a sul de Afrin. A operação começou oficialmente às 17 horas do dia 20 de janeiro, pouco depois da declaração do presidente Erdogan, que disse que “A operação em Afrin começou de facto no terreno”.

Afrin está situada numa posição vital em termos geopolíticos, junto à fronteira com a Turquia. De acordo com o censo de 2 004 na Síria, viviam 64 758 pessoas no centro de Afrin, e um total de 172 mil pessoas em todo o distrito. A relativa segurança desta região, que até ao momento não foi alvo dos ataques aéreos do regime de Assad, fez com que tivesse ocorrido uma grande migração para esta região. Pensa-se que a população atual de Afrin seja de 300 mil pessoas. Para o grupo, esta região é um ponto de acesso para se aproximar do Mediterrâneo. Além disso, tenta também levar para aqui os seus militares e armamento, estabelecendo um canal de abastecimento para a Turquia, através da Serra de Amanos. As Forças Armadas da Turquia e outras forças de segurança turcas, inativaram mais de 40 terroristas que tentavam entrar nesta região oriundos de Afrin.

A fase de ataque da operação Ramo de Oliveira em Afrin, começou quando os aviões de caça turcos bombardearam os alvos terroristas, entrando em espaço aéreo sírio. 72 aviões de caça destruíram 108 objetivos no terreno. Entre os objetivos da operação, havia refúgios e depósitos de munições do PKK/KCK/PYD-YPG. A primeira etapa da operação deu indicações sobre uma intervenção militar de grande envergadura, contra o terrorismo do PKK em Afrin.

As Forças Armadas da Turquia e a oposição síria apoiada por Ancara, juntaram-se numa operação terrestre e assumiram o controlo de muitas localidades durante o segundo dia da operação. Verificámos que as colinas com encostas escarpadas foram os objetivos prioritários. Como parte da estratégia militar, tendo-se impedir a fuga do YPG, bloqueando as colinas neste território. Uma vez controlados os montes, as Forças Armadas da Turquia e os opositores sírios por si apoiados, passaram à fase de purga do grupo terrorista. Outra questão essencial, é o facto da operação se desenrolar em 8 frentes, forçando o YPG a combater em muitos lados ao mesmo tempo, para que perca a sua força.

O grupo terrorista PKK/YPG tenta usar civis como escudos humanos, ao dirigir-se para os bairros povoados e ao resistir com técnicas de guerra assimétrica e híbridas. Constatamos que o grupo tenta reduzir as suas próprias baixas, usando civis como escudo e ao levar a cabo um processo de propaganda negra à escala global, garantindo que morrem civis na operação. Esta análise é confirmada sempre que os membros do grupo impedem que os civis abandonem o centro de Afrin e as zonas rurais em seu redor.

A operação destaca-se pelo seu aspeto diplomático, para além da sua dimensão militar. A Rússia continua a manter sob o seu controlo o espaço aéreo sírio, na sequência do convénio assinado com o regime sírio. Sabe-se que a Rússia, que tem postos de controlo na zona, tenta convencer a Turquia a levar a cabo uma operação de menor dimensão. Mas é óbvio que é necessária uma operação de purga mais abrangente, para desativar de forma permanente a ameaça terrorista em Afrin.

Adicionalmente aos contactos muito próximos com a Rússia, a Turquia desenvolve também uma diplomacia muito intensa com os Estados Unidos, com a União Europeia e com os países do Golfo Pérsico. Pouco depois do início da operação, os embaixadores de muitos países na Turquia foram chamados ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, para serem informados acerca da operação Ramo de Oliveira.

A intenção de França, de levar esta questão ao Conselho de Segurança da ONU, transformou-se num tema da agenda para avaliar a dimensão humanitária da operação, graças às iniciativas diplomáticas turcas. Além disso, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Turquia conseguiu impedir as intenções de alguns círculos pro-PKK, no Conselho da Europa, que queriam trazer para o centro do debate a operação Ramo de Oliveira.

Dos Estados Unidos chegaram várias declarações sobre a operação Ramo de Oliveira. No geral, não estão contentes com a operação. Apesar do Reino Unido, da Alemanha e da NATO considerarem esta operação legítima, a Rússia responsabiliza a postura irresponsável dos Estados Unidos na Síria.



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