As relações turco-alemãs na véspera das eleições na Alemanha

Porque é que as relações entre a Turquia e a Alemanha se têm deteriorado nos últimos tempos?

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As relações turco-alemãs na véspera das eleições na Alemanha

É muito claro que as relações turco-alemãs atravessaram um momento de viragem muito problemático, antes das eleições que se realizaram no último fim de semana. As relações turco-alemãs, que já vêm desde um passado histórico, nunca entrarão num processo de conflito devido às manipulações do populismo que veio à tona de água devido às eleições. Isto porque as relações entre os dois países contribuem mutuamente para os interesses de ambos os países, devido aos equilíbrios geopolíticos e também por motivos económicos. A Alemanha precisa da Turquia tanto por questões de segurança internacional, como por motivos de acesso aos recursos energéticos. Já Ancara, precisa de Berlim por motivos económicos e para se abastecer de elementos tecnológicos e estratégicos.

Tendo em conta esta situação, porque é que as relações entre a Turquia e a Alemanha se têm deteriorado nos últimos tempos? De facto, parece que há sempre pequenos problemas entre a Turquia e a Alemanha. Estes problemas já se arrastam há muito tempo, principalmente por causa do apoio dos alemães ao grupo terrorista PKK, e também devido às preocupações sobre as atividades da Turquia nas fundações alemãs. Mas até agora, estes problemas não conseguiram fazer romper as relações entre os dois países.

Quando analisamos os motivos por detrás da tensão no último período, o problema começou com o acordo sobre os refugiados sírios, assinado há um ano entre a Turquia e a União Europeia. O facto da União Europeia não ter respeitado o Acordo Turquia – União Europeia, ratificado em 2 016, fez com que a primeira vítima tivessem sido as relações turco-alemãs. Além disso, a Alemanha e outros países europeus opuseram-se ao processo de referendo na Turquia, que teve lugar em abril de 2 017, por motivos de política interna. Esta postura causou problemas políticos entre Ancara e Berlim. O facto da Alemanha proteger os membros golpistas e os seus apoiantes, que fugiram da Turquia depois da tentativa de golpe de estado de 15 de julho, também adensou muito a tensão nas relações entre os dois países.

Para além desta situação, Ancara reagiu contra os políticos alemães, que adotaram uma postura populista durante a campanha para as eleições alemãs, que decorreram este fim de semana, no dia 24 de setembro, seguindo uma postura de acusações constantes à Turquia. Neste contexto, os políticos alemães e acima de tudo a chanceler Angela Merkel, defenderam a suspensão do processo de negociações de adesão da Turquia à União Europeia. Merkel foi até mais longe, dizendo que devem ser suspensas as negociações para a revisão da União Aduaneira entre a Turquia e a União Europeia. À margem destas situações, o governo alemão colocou também sanções contra a Turquia, limitando o envio de tecnologia militar e a venda de armas alemãs à Turquia. Estas sanções foram alvo de críticas por parte do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que protestou contra as declarações e atitudes injustificadas de Merkel, e apelou aos eleitores turcos na Alemanha para que mostrassem a sua reação.

Por seu turno, os políticos alemães acusaram a Turquia de intervir nas questões internas da Alemanha. Tendo em conta que os políticos alemães adotaram a mesma atitude durante o processo de referendo na Turquia, e que Berlim considerou essa atitude como sendo democrática, não se percebem as críticas quando a Turquia se limitou a fazer o mesmo.

Sem dúvida, que há também razões geopolíticas para além dos motivos políticos e populistas, por detrás das atitudes hostis contra a Turquia. A Alemanha, e principalmente depois da saída do Reino Unido da União Europeia, começou a adotar uma postura imperial para impor a sua supremacia na Europa, e começou a carregar sobre a Turquia. Apesar de não ter nenhuma autorização para isso, a Alemanha começou a tomar decisões unilaterais sobre a Turquia, em nome da União Europeia.

Em conclusão, a deterioração das relações turco-alemãs não será prejudicial para apenas um dos lados, e dará azo a um aumento da tensão que não convém a nenhuma das partes, pelos motivos mencionados anteriormente. É preciso que seja adotada uma política racional para que possa haver uma melhoria nas relações bilaterais.

A Alemanha deve mudar a sua postura política em relação à Turquia, e deve seguir uma linha diplomática que renuncie ao populismo. Espera-se que as relações turco-alemãs comecem a ser suavizadas depois das eleições.



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