As eleições presidenciais em França e as suas eventuais repercussões nas relações entre a Turquia e

A análise de Cemil Dogaç Ipek, investigador de Relações Internacionais na Universidade Ataturk.

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As eleições presidenciais em França e as suas eventuais repercussões nas relações entre a Turquia e

As eleições presidenciais francesas tiveram lugar há pouco tempo atrás em França. Emmanuel Macron venceu as eleições na segunda volta do escrutínio.

Emmanuel Macron é o fundador do movimento “Em Marcha”, e venceu as eleições presidenciais em França com 66,1% dos votos, contra 33,9% de Marine Le Pen. A taxa de participação neste ato eleitoral foi de 74,6%, baixa para uma segunda volta das presidenciais. O número de abstenções, na ordem dos 11,5%, foi por contraponto elevado. Com estes resultados, Macron foi eleito com apenas 43,6% dos votos, se considerarmos a totalidade de eleitores recenseados e elegíveis para votar. Em consequência disto, aqueles que não se deslocaram às urnas ou que votaram em branco, representam um terceiro bloco importante contra os dois candidatos.

Macron não era um político popular até há um ano atrás. Ele foi ministro da Economia no gabinete do presidente Holland. Ele deixou o Partido Socialista para fundar o movimento Em Marcha. Em pouco tempo, ele foi eleito o presidente mais jovem de sempre em França. A Europa acolheu com entusiasmo a vitória de Macron. Os políticos liberais e social-democratas olham para ele como um salvador da União Europeia. Este resultado deixou o ocidente descansado do ponto de vista da política externa, pois Macron dá uma grande importância à existência e à missão da UE na arena internacional.

Macron avançou com novos pontos de vista e projetos em relação aos problemas económicos com os quais a França é confrontada. É por este motivo que ele recebeu o apoio de certos meios da sociedade. Contudo, sérios desafios estão perante Macron. Os problemas económicos atuais são de grande envergadura e podem ampliar-se ao ponto de não conseguirem ser cobertos pelo orçamento francês em 2 020. A França é já um país que luta contra problemas de ordem económica. Sem sérias medidas, a França poderá perder a sua qualidade de país próspero.

Algum tempo depois das eleições presidenciais, ou seja, a 11 de junho, os franceses voltam às urnas para votar nas eleições legislativas. Os candidatos que obtenham pelo menos 50% dos votos na primeira volta, serão eleitos diretamente para o parlamento. Uma segunda volta será organizada nos círculos eleitorais em que nenhum candidato tenha obtido 50% na primeira volta. Nesta segunda volta, que terá lugar no dia 18 de junho, só participarão os candidatos que tenham ultrapassado a barreira dos 12,5% na primeira volta. Neste segundo turno, os candidatos que obtenham o maior número de votos, são eleitos para o parlamento.

O instituto de sondagens Opinionway – SLPV Analytics, publicou há uns dias uma sondagem relativa à segunda volta. Segundo esta sondagem, o movimento Em Marcha poderá conseguir entre 249 e 286 lugares no parlamento, de um total de 536 círculos eleitorais, que são representados nos 577 assentos parlamentares. Com a Córsega e as províncias ultramarinas, Macron poderá conquistar até 290 lugares no parlamento, ou seja, a maioria absoluta que é atingida com 289 deputados. Face aos resultados desta sondagem, Macron está à procura do apoio dos políticos de centro-direita. A nomeação de Edouard Phillippe (de centro-direita) para o cargo de primeiro ministro, poderá ser interpretada como uma ação nesse sentido.

A eleição de Macron não significa que as correntes de xenofobia, turcofobia e de islamofobia tenham perdido terreno. Adicionalmente, o número de votos conseguido por Le Pen (34%) mostra, pelo contrário, que esta corrente se reforçou.

Depois das eleições francesas, nós podemos dizer que a extrema direita se tornou num ator político importante na Europa. Os políticos europeus, infelizmente, alimentaram eles mesmos a tendência de extrema direita (com as suas políticas turcofóbicas e islamofóbicas). A única solução rápida possível, é integrar a Turquia no seio da União Europeia. Esta é a única forma de prevenir a subida da extrema direita no continente europeu.

É difícil prever qual será a política externa seguida por Macron, em particular no que diz respeito à Turquia. Isto porque o jovem líder não tem um passado real na política. O seu movimento Em Marcha é muito recente. Depois de uma primeira impressão, Macron parece ser um líder com o qual a Turquia poderá trabalhar em vários domínios. É provável que o presidente Erdogan da Turquia e o presidente Macron de França tenham um encontro frente a frente, no âmbito da cimeira da NATO que decorre atualmente em Bruxelas. Macron poderá seguir uma política de reaproximação com a Turquia, depois de Hollande. Na verdade, Macron fez muito poucos comentários em relação à Turquia e à adesão da Turquia à União Europeia.

A Turquia foi confrontada nos últimos tempos com os duplos critérios de países europeus, como a Alemanha, Os Países Baixos e a Áustria. A França, em contrapartida, seguiu uma política mais compreensiva face à Turquia, e partilhou de mais perto as teses da Turquia sobre várias questões como a crise síria. A aproximação entre a Turquia e a França, bem como a sua cooperação em relação à Europa e à Síria, serão benéficas para os dois países. A presidência de Macron e o seu encontro com o presidente Erdogan da Turquia, serão algo que saudamos.



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