A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente

A situação na Líbia: Haftar à procura do apoio de Moscovo.

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A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente

Ao longo dos últimos programas temos vindo a falar sobre a crise na Líbia, e focamo-nos no acordo político alcançado na Líbia pelo Grupo de Diálogo pela Líbia. Em função deste acordo, indicámos que o governo de unidade nacional tinha começado a trabalhar em abril de 2 016, em Tripoli. Dissemos também que as forças militares que reconheceram o governo de unidade nacional, tinham dado início às operações para eliminar o DAESH de Sirte e de toda a Líbia, mas que o governo de unidade nacional tinha sérios problemas em afirmar a sua autoridade. Entre os muitos problemas que o governo enfrenta, está o facto da Assembleia de Representantes de Tobruk insistir em continuar a ter um papel na governação, apesar do seu papel político se ter extinguido.

O governo associado a esta assembleia de representantes e o general Khalifa Haftar – que lidera as suas forças militares – são na realidade os maiores obstáculos que impedem a reconciliação nacional. Além disso, Haftar que acentua a sua força no leste do país, está prestes a criar uma administração militar nesta região.

Um outro fator problemático é o desacordo entre os políticos líbios acerca dos atores de fora do país que os grupos políticos da Líbia querem incluir na procura de uma solução. Os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, a França, a Itália, o Egito, os Emirados Árabes Unidos, a Arábia Saudita e também a Turquia – que desejam ter uma palavra a dizer nos desenvolvimentos na Líbia – não têm políticas harmoniosas entre si. Ainda assim, mesmo que todos reconheçam o governo como uma autoridade oficial, eles divergem depois no apoio aos diferentes atores líbios. Tudo isto obviamente prejudica as tentativas de alcançar a união nacional.

Apesar de aumentar a sua força de dia para dia na Líbia, Haftar não está contente com a situação atual. O apoio dado a Haftar pelo Egito, pelos Emirados Árabes Unidos, França e pela Arábia Saudita, não lhe permite alcançar uma solução para a crise líbia da forma que ele gostaria. Ele tem a impressão de poder assumir um papel chave, se a Rússia intervier ativamente na crise líbia. Neste contexto e ao longo do ano de 2 016, ele efetuou visitas à Rússia na esperança de obter o apoio do Kremlin.

Foi a vitória eleitoral de Donald Trump que motivou Haftar a fazer a sua segunda visita à Rússia. As declarações de Trump acerca das suas novas políticas para o Médio Oriente, o facto dele considerar todos os islamitas como terroristas, e as suas declarações de apoio tanto a Al Sissi como a Putin, são outros elementos essenciais que estão na base da sua visita à Rússia.

Haftar considera que durante a administração de Trump, os Estados Unidos, o Egito e a Rússia irão iniciar uma nova era de cooperação no Médio Oriente. E com esta ideia em mente, o general líbio deslocou-se até Moscovo para pedir ajuda e formação militar à administração russa. Se Moscovo decidir apoiar uma das partes na questão líbia, isso terá certamente um importante impacto sobre os atores líbios. Será que a Rússia irá fazer uma tal escolha?

Contrariamente à sua posição na Síria, a Rússia evitou até agora envolver-se na questão líbia, e nunca usou até ao momento presente o seu poder de veto nas decisões do Conselho de Segurança da ONU, relativamente à questão líbia. Além disso, a Rússia apoiou ao longo destes últimos anos o diálogo político e os acordos que foram estabelecidos na Líbia. A Rússia, inclusivamente reconheceu o governo de unidade nacional. Adicionalmente, sabemos que a Rússia tem uma simpatia relativamente aos governos de Haftar e de Tobruk. A Rússia assume uma posição próxima da de França, do Egito e dos Emirados Árabes Unidos no que toca à questão líbia.

O governo de Haftar usou a carta do terrorismo como um inimigo comum, para obter apoio militar durante as suas reuniões com o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov. No entanto, o porta-voz oficial do Kremlin, não fez até agora declarações que permitam saber se a Rússia vai ou não dar esse apoio. Pelo contrário, o porta-voz russo fez saber que tinham tido contatos com diferentes fações políticas e que as reuniões com Haftar faziam parte desse processo.

Por outro lado, as informações relativas ao encontro entre Lavrov e Haftar – publicadas pela agência noticiosa oficial russa – não mostram que o apoio solicitado tenha sido dado. Lavrov tinha dito a Haftar que a Rússia apoiava a procura por um consenso nacional na Líbia, de acordo com as decisões do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Durante a sua campanha eleitoral, Donald Trump criticou com frequência a administração Obama e Hillary Clinton por causa da sua política para a Líbia. Donald Trump, que sempre se mostrou favorável a Putin, tinha afirmado que tentaria cooperar com a Rússia nas questões do Médio Oriente. É por todos estes motivos que os partidários de Haftar consideraram a vitória de Trump com uma boa notícia, e celebraram essa situação. Eles acreditam que Trump chegará a um entendimento com Al Sissi em relação à Líbia e que irá cooperar com a Rússia na região, não se opondo a um papel ativo da Rússia no conflito líbio. Este papel mais ativo será obviamente concretizado sob a forma de apoio militar e político ao governo de Tobruk e às tropas de Haftar no terreno.

O que podemos retirar das declarações oficiais da Rússia, é o apoio – pelo menos por agora – de Moscovo aos esforços internacionais liderados pela ONU, no sentido da criação de um consenso nacional na Líbia. Mas sabemos pelos desenvolvimentos na Síria, que a Rússia não tem a preocupação de estar em uníssono com a comunidade internacional. Moscovo já o mostrou na Ucrânia e na Síria, e não hesitaria em apresentar a sua própria proposta de solução, como uma alternativa que deva ser discutida.

A situação atual no norte de África e as debilidades dos países ocidentais em desenvolver uma política coerente, dão oportunidades à Rússia para se destacar na Líbia. Na realidade, a Rússia não se quer esticar para além dos seus meios e da sua força. Em resumo, a Rússia não quer correr o risco de perder o que já conquistou, na tentativa de alcançar mais ainda.



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