Ocidente: a subida da turcofobia e da FETO

Todos aqueles que seguem a televisão e os jornais ocidentais, reparam constantemente na existência de uma Erdoganfobia sempre na ordem do dia nos últimos, algo que acontece de forma intencional.

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Ocidente: a subida da turcofobia e da FETO

Apesar do termo “turcofobia” não ter ainda encontrado o seu lugar na literatura internacional dos nossos dias, este conceito pode no entanto ser considerado como uma subcategoria da xenofobia e da islamofobia. E podemos até adicionar mais uma expressão, a “Erdoganfobia” e também dizer que a turcofobia é disseminada maioritariamente através da Erdoganfobia.

Todos aqueles que seguem a televisão e os jornais ocidentais, reparam constantemente na existência de uma Erdoganfobia sempre na ordem do dia nos últimos, algo que acontece de forma intencional.

Várias razões explicam a existência da Erdoganfobia no Ocidente, nomeadamente o papel extremamente importante dos membros da FETO (organização terrorista gulenista / estrutura do Estado paralelo), desde o processo de 17-25 de dezembro (caso de corrupção) e sobretudo após o 15 de julho (tentativa de golpe de estado).

A FETO coloca frequentemente o seu discurso e as suas ações contra a Turquia via Erdogan, que classifica regularmente de “ditador” e de “sultão”. Isto porque eles sabem estes adjetivos têm raízes históricas no espírito dos ocidentais.

As raízes históricas da turcofobia na Europa

A turcofobia na Europa começou a surgir após a conquista de Istambul, e enraizou-se com mais força durante os séculos XV e XVI até se tornar num medo que espalhou por toda a Europa. Os documentos históricos mostram que este medo atingiu o seu apogeu durante os reinados de Mehmet II – o Conquistador, e de Suleyman – o Magnífico, que estendeu as fronteiras otomanas até às portas de Viena. Por consequência, estes dois sultões deixaram traumas cujo impacto dura até aos nossos dias no espírito dos europeus. O termo “sultão” – um pouco usado nos nossos dias no Ocidente para fazer alusão a ditaduras – faz normalmente referência a estes dois sultões.

O anunciado “Mamma li Turchi!” – que significa “Mamã, os turcos vêm aí!” – usado pelos italianos para anunciar a chegada de algo terrível ou para fazer medo às crianças, é uma expressão marcante deste medo e deste traumatismo.

Os filósofos, religiosos e autores notáveis da época, abordaram também a questão da turcofobia e falaram mesmo de uma guerra e de uma luta total contra os turcos. Iniciativas de pessoas como Voltaire, Erasmus, João Calvino ou Martinho Lutero, que escreveram livros turcofóbicos e apelaram às suas sociedades que fizessem guerra contra os turcos, usaram um discurso e ações anti-turcas que revelam esta tendência. Por exemplo, Martinho Lutero – o fundador do protestantismo – tem dois livros sobre este tema: “Sobre a guerra contra os turcos” e “Sermão para o exército contra os turcos”. Temos também o exemplo de Desiderius Erasmus, que foi na realidade um filósofo-teólogo holandês islamofóbico e turcofóbico.

Teologicamente, os pensadores da época trabalharam para gravar no espírito dos europeus a ideia segundo a qual os turcos são, para os europeus, um castigo de Deus.

Neste contexto, é de facto inegável que muitas personalidades turcofóbicas e islamofóbicas que tiveram sucesso na criação de códigos espirituais religiosos e intelectuais do Ocidente - e que escreveram livros sobre estas tendências – tiveram um papel muito importante na subida da turcofobia e da Erdoganfobia no Ocidente. Se em certas análises publicadas na imprensa europeia e ocidental Erdogan é apelidado de “sultão” – fazendo certas referências aos dois sultões anteriormente indicados – tudo isto tem por base um plano histórico anterior, elaborado por estas personalidades turcofóbicas.

A história repete-se

É agora absolutamente claro que a história se está a repetir na Europa nos últimos tempos, relativamente ao medo e oposição face aos turcos. Nós constatamos também que este medo se manifesta sobretudo sob a forma de Erdoganfobia. Todos os programas de televisão e todas as notícias e reportagens publicadas todos os dias sobre a Turquia na Europa e nos Estados Unidos, apelidam Erdogan de ditador. Podemos também observar as insinuações ou acusações do mesmo género que surgem das pessoas comuns nestes países.

Esta imagem - baseada nas crenças face aos turcos, e criadas no passado desde logo por razões militares e em grande medida religiosas – está sempre presente como pano de fundo no espírito ocidental, e é exteriorizada de forma refletiva sempre que se fala da Turquia e de Erdogan. Deste ponto de vista, a história repete-se sem dúvida. Apenas mudaram as pessoas, o cenário e os métodos.

Sim, mas porquê?

Nós podemos enumerar muitas razões importantes, tais como o regresso da Turquia às suas referências e raízes históricas sob a liderança de Erdogan, apesar de todos os desafios, o caráter irrepreensível e as conquistas constantes da Turquia, a sua recusa em usar uma camisa de força, as suas políticas ágeis e proactivas não reacionárias, a sua vontade de atuar de acordo com a sua própria agenda e não segundo a agenda dos decisores ocidentais, a sua presença na política mundial (e em particular no Médio Oriente), o ênfase colocado por Erdogan na estrutura injusta da ONU ao dizer que “o mundo é maior que 5” perante os chefes de estado de 193 países, o seu rápido reforço da indústria de defesa, a sua entrada enquanto “perturbador do jogo” na Síria ao levar a cabo a operação “Escudo do Eufrates”, os seus sucessos contra os ataques terroristas de organizações terroristas como a FETO, o PKK ou PYD – ao mesmo tempo que continua a realizar grandes projetos, a sua determinação em continuar o seu caminho sem ter em conta as manipulações económicas postas em prática por canais alternativos como os instrumentos financeiros internacionais como a Moody´s, as suas ações de ajuda humanitária em vários países – em particular nos países islâmicos – e as suas iniciativas com vista a mobilizar os turcos no estrangeiro – nomeadamente nos países da Europa ocidental em termos de lóbi eficaz, ao levar a cabo ações com instituições de “soft power” como a YTB (a Presidência dos Turcos no Estrangeiro), a TIKA (Agência para a Cooperação e Coordenação), o Instituto Yunus Emre ou a Associação Maarif, recentemente criada no domínio da educação.

Mas a razão mais importante, foi a dissolução da FETO, em particular a partir de 15 de julho, transformada e posta em prática pelo orientalismo ao longo de muitos anos, contra a Turquia e contra o mundo muçulmano.

Turcofobia / Erdogandobia nos Países Baixos: a influência da FETO

Em particular logo a seguir à tentativa de golpe de Estado do 15 de julho, a organização terrorista gulenista FETO tornou-se no mais importante instrumento de promoção da Turcofobia / Erdoganfobia no mundo inteiro, e em particular nos países ocidentais. A influência direta ou indireta da FETO fica desde logo patente em todas as iniciativas desfavoráveis à Turquia e a Erdogan em todo o Ocidente, sobretudo em países como os Estados Unidos, o Reino Unido, a França, a Alemanha, os Países Baixos ou a Bélgica.

Quando esta influência se associa com os discursos e ações turcofóbicas já existentes nesses países, transforma-se numa campanha muito mais eficaz.

Como facilmente se pode compreender, esta situação pode levar a mudanças negativas sobre a perspetiva e sobre os políticos destes países relativamente aos turcos que aí vivem. Sobretudo os institutos e organizações turcas patrióticas em solo em europeu, são considerados como sendo “o longo braço da Turquia de Erdogan” e são deixadas ao abandono.

O exemplo mais recente e mais concreto desta situação, é a resolução proposta pelo Partido Democrata Cristão (CDA) e adotada recentemente por unanimidade pelo parlamento holandês - uma das bases mais importantes da estrutura da FETO na Europa. Esta resolução define que o financiamento dos imãs da Diyanet (Autoridade Turca para os Assuntos Religiosos) na Holanda, é um obstáculo à integração e que se trata de uma ingerência nos assuntos internos deste país, logo é preciso impedir este financiamento. No estado atual, é inegável a influência de campanhas sistemáticas segundo as quais os institutos e organizações turcas representam um obstáculo à integração.

Contudo, as campanhas de propaganda e as acusações que dizem que “os imãs da Diyanet são agentes da Turquia e de Erdogan”, são um dos fatores mais importantes sobre este assunto. Para este efeito, o estatuto da Diyanet, bem como a situação das mesquitas e dos imãs ligados à Diyanet, foram observados à lupa e foram analisadas e publicadas pela imprensa, numerosas informações segundo as quais estas mesquitas são áreas de propaganda de Erdogan na Holanda.

Entre aqueles que levam água a este moinho, está à cabeça Geert Wilders, o líder do partido racista na Holanda. Ele, juntamente com os partidos cristãos e os membros da FETO, queriam ver “um mundo sem Erdogan” no início do 15 de julho. Os relatórios colocam frequentemente em evidência que as mesquitas da Diyanet têm essencialmente uma interpretação islâmica longe do radicalismo. Contudo, a Erdoganfobia em alta por causa das manipulações dos membros da FETO após o processo de 17-25 de dezembro (caso de corrupção), e mais recentemente o 15 de julho, manifesta-se em concreto sob a forma de pressão contra as mesquitas e os imãs da Diyanet, e outras instituições turcas que levantam a voz contra as atividades anti-Turquia.

Tudo isto necessita de boas medidas estratégicas, que visem reduzir a fobia existente no Ocidente e a eliminar esta imagem negativa da Turquia e de Erdogan, em resultado desta fobia. Para atingir este objetivo, é indispensável fazer um bom diagnóstico e levar a cabo em seguida um processo de tratamento adequado. Nos dois casos, um bom estudo da história verifica-se necessário.



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