A Jordânia está exposta diretamente aos três problemas fundamentais do Médio Oriente

A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente.

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A Jordânia está exposta diretamente aos três problemas fundamentais do Médio Oriente

Encurralada entre Israel, a Síria e o Iraque, a Jordânia está exposta diretamente aos três problemas fundamentais do Médio Oriente. Os palestinianos constituem mais de 50% da população da Jordânia, e por este motivo o país está diretamente implicado na questão palestiniana.

A violência que surgiu no Iraque na sequência da ocupação de 2 003, obrigou centenas de milhares de iraquianos a refugiarem-se na Jordânia. Os incidentes registados desde 2 011 na Síria, também obrigaram perto de um milhão de sírios a fugir para a Jordânia.

Pondo de parte os problemas regionais, a Jordânia vive também conflitos internos, nomeadamente por causa das eleições municipais de 20 de setembro, e ainda devido às dificuldades económicas e ao assassinato do jornalista Nahid Hatter no passado dia 25 de setembro.

Hatter era um jornalista cristão, socialista e apoiante de Assad. Ele desde há algum tempo que vivia no Líbano, por causa das ameaças de morte de que era alvo. Hatter foi assassinado no dia 25 de setembro, quando se encontrava em Amã para participar no processo aberto contra ele, por causa da partilha de uma caricatura no Facebook. Depois deste assassinato, tiveram lugar várias manifestações na Jordânia. Os meios seculares e as elites de Amã, fizeram saber que o ataque contra Hatter foi também um ataque contra as suas vidas. O Partido Maan (Partido da Unidade), fundado por estas elites e meios seculares, tem um programa laico e obteve alguns lugares no parlamento nas últimas eleições legislativas. A entrada do Partido Maan na arena política, mostra que o ambiente se adivinha tenso entre os secularistas e os devotos religiosos na Jordânia.

As eleições para a Câmara de Representantes, que tiveram lugar no dia 25 de setembro, são consideradas pelo rei Abdallah da Jordânia como um ponto de viragem para o futuro do país. Estas eleições decorreram no geral num ambiente de calma, apesar dos problemas ocorridos nalguns locais. Mas o interesse que estas eleições suscitaram foi no geral fraco, em comparação com os atos eleitorais anteriores, o que mostra desprezo pela nova lei eleitoral. A perceção das eleições para o rei e eleições para os restantes cidadãos, não é de todo a mesma. Apesar do boicote do Partido da Frente do Trabalho Islâmico (PFTI) – constituído essencialmente por membros da Irmandade Muçulmana – a taxa de participação nas eleições anteriores ficou abaixo dos 50%. Já nestas eleições de 25 de setembro, e apesar da participação do PFTI, apenas 37% dos eleitores registados foram às urnas.

A taxa de participação em Amã e em Zerka – as duas maiores cidades do país – chegou apenas aos 25%. Dois terços da população urbana da Jordânia são compostos por palestinianos. Mas em contrapartida, aqueles que em grande medida têm voz, são os membros das grandes tribos. O parlamento jordano não tem, segundo a Constituição, poderes que possam ser classificados de reformistas.

O Senado, que é a segunda câmara do parlamento, é inteiramente composto por membros nomeados pelo rei, e tem todos os poderes da Câmara de Representantes, com esta última a ser de facto um mecanismo de representação das tribos. Esta instituição não passa no entanto de um instrumento para dar empregos aos membros das famílias ricas nas instituições locais. Graças às leis aprovadas em 2 015, o objetivo era de reforçar o papel da Câmara de Representantes no sistema, bem como o dos partidos políticos em detrimento do poder das tribos. Mas as emendas legais não produziram os resultados esperados.

Em consequência de tudo isto, a taxa de participação foi mais elevada nas zonas sob influência das tribos, tendo-se registado uma participação eleitoral muito fraca nas mais importantes zonas urbanas. A PFTI obteve 25% dos votos nas últimas eleições, mas a sua representação na Câmara dos Representantes fica-se por apenas 12%. A PFTI será o principal partido político no parlamento com 15 lugares na bancada. Com a exceção deste partido, todos os outros têm apenas entre 1 e 5 deputados.

A maioria da Câmara dos Representantes será constituída por membros eleitos entre os candidatos das tribos, bem como por homens de negócios próximos do palácio real. Por tudo isto, nem as novas leis “reformistas”, nem as últimas eleições, permitiram ao regime obter avanços que fortaleçam a sua legitimidade.

Na sequência das eleições, o rei exigiu que o novo governo se concentrasse nas reformas económicas, no crescimento e na diversidade. O reino tinha elaborado planos de crescimento económico, assentes em dois diferentes cenários no âmbito da visão para 2 025. O cenário mais pessimista prevê um crescimento de 4,8% para a economia jordana ao longo da próxima década, enquanto que o segundo cenário visa atingir um crescimento na ordem dos 7,5%.

Mas os dois objetivos não são na realidade muito realistas. O recurso mais importante da Jordânia é a sua posição geoestratégica. O país é alvo de um interesse considerável devido à sua localização geoestratégica. Mas a Jordânia precisa de muito mais para poder evoluir. Os principais produtos exportados pela Jordânia são o potássio, os fosfatos e mão de obra. 40% da mão de obra do país é exportada. O país tem problemas ao nível da água, o que complica o desenvolvimento do setor agrícola orientado para as exportações. Uma boa parte da mão de obra que fica no país, está empregue no setor público. Os rendimentos no setor público jordano são muito baixos. O país enfrenta também uma redução de 35% nos rendimentos oriundos do estrangeiro.

O turismo é uma fonte importante de rendimentos para o país. Mas a situação no Iraque e na Síria teve como consequência uma queda nas receitas do turismo em vários países, sendo a Jordânia também afetada por esta situação.

O desemprego no país atinge os 14,5%, mas no caso dos jovens entre os 15 e os 24 anos a taxa de desemprego sobe até aos 30%. As despesas com a segurança da Jordânia – em parte subvencionadas pelos Estados Unidos – subiram em flecha.

A Jordânia planeia sair da situação em que se encontra, melhorando desde logo a sua economia com os créditos obtidos junto do FMI. Contudo, a cada novo problema que surge no Médio Oriente e a cada novo problema que surge no país, somos confrontados com esta realidade: é literalmente impossível conseguir resolver um problema surgido num país vizinho independente da região. Para resolver os problemas surgidos na região, será preciso desde logo que os países vizinhos se encontrem para encontrar soluções, sem no entanto se imiscuírem nas questões externas que afetam os seus próprios países.



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