A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente

A aproximação entre a Turquia e a Arábia Saudita.

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A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente

O rei Salman da Arábia Saudita realizou uma visita à Turquia, na sequência do convite feito pelo presidente Recep Tayyip Erdogan. Da agenda do rei saudita, fez também parte a participação na cimeira da Organização para a Cooperação Islâmica.

A Turquia atribui uma particular importância à visita do rei Salman. Ele foi condecorado pelo presidente turco com a mais alta distinção do estado.

Reina um sopro de primavera nas relações turco-sauditas, depois da chegada ao poder do rei Salman. As relações entre os dois países tinham sido afetadas pelo golpe de estado ocorrido no Egito em 2 013, contra Mohammed Morsi, o primeiro presidente eleito do país. Depois da Turquia ter tomado a sua posição a favor da vontade do povo, a Arábia Saudita deu um apoio importante ao regime golpista.

Hoje em dia, os dois países deixam entender a todo o mundo, que são parceiros estratégicos regionais ou até mesmo aliados.

Como é que as relações turco-sauditas chegaram hoje em dia até ao seu apogeu?

Não podemos simplesmente reduzir esta situação com o facto do rei Salman ter chegado ao poder. É preciso olhar para os interesses comuns dos dois países e para as políticas seguidas por ambos, para compreender melhor a situação.

Antes de mais, os dois países estão incomodados pelas políticas seguidas pelas grandes potências ocidentais na região. Nem a Turquia nem a Arábia Saudita têm confiança nos países ocidentais. Hoje em dia, os dois países interpretam geralmente da mesma forma, os processos em curso na Síria, no Iraque e no Iémen.

A Turquia e a Arábia Saudita consideram que o Irão tem uma influência mais forte que a necessária na região, e que é preciso reequilibrar as forças. O acordo alcançado com o Irão sobre a questão nuclear, é considerado como sendo negligente por parte do Ocidente para os equilíbrios regionais e para a defesa dos interesses económicos.

Outra questão que incomoda a Turquia e a Arábia Saudita, é a intervenção exterior sempre sob ameaça, a pretexto de intervir contra organizações terroristas internacionais como a Al Qaeda e o DAESH. Os dois países colocaram meios à disposição para que a luta contra estas organizações seja levada a cabo diretamente pelos países da região e por muçulmanos.

A Arábia Saudita começou a ter preocupações com o Irão a partir de 1 979. Depois da revolução iraniana de 79, a competição geopolítica deu origem a uma guerra fria entre os dois países. O regime que se estabeleceu no Irão em 1 979, pôs em causa o equilíbrio de forças da região e em seguida desafiou o status quo regional do ponto de vista ideológico.

Esta situação deu origem a uma nova perceção de ameaça por parte da administração saudita, pois o seu estatuto na região foi diretamente desafiado. O mesmo se passou em relação aos outros países do Golfo Pérsico e ao Iraque.

Por este motivo, os países do Golfo apoiaram o regime de Saddam Hussein em todos os planos, durante a guerra de 8 anos entre o Iraque e o Irão.

A intervenção militar levada a cabo em 2 003 por parte dos Estados Unidos contra Saddam Hussein, foi um segundo ponto de rutura. Na sequência dessa intervenção, a mudança de regime no Iraque fez com que se pensasse que o equilíbrio de forças tivesse novamente sido alterado em favor do Irão. Os partidos xiitas que chegaram ao poder após as eleições legislativas no Iraque, estreitaram os laços entre o país e o Irão. Essa situação, também ajudou a consolidar a perceção da alteração do equilíbrio de forças.

O impacto sobre a região dos eventos da Primavera Árabe, fez reforçar ainda mais a luta política entre o Irão e a Arábia Saudita. Neste período, o governo saudita considerou que os desenvolvimentos no Barein foram uma intervenção do Irão. A juntar a esta situação, os desenvolvimentos no Iémen e na Síria foram também olhados através da perspetiva da luta pelo equilíbrio de forças.

As preocupações com o Irão multiplicaram-se após o acordo nuclear. No Iraque, a ação conjunta de Bagdade contra o DAESH com o apoio do Irão e dos Estados Unidos, foi vista como uma cooperação entre o Irão e os Estados Unidos.

A mudança de posição de certos países ocidentais que defendiam a “partida de Assad” em 2 012, foi outro fator a reforçar as inquietações sauditas. O apoio da Rússia ao regime de Assad - que já era apoiado pelo Irão – foi a gota que fez transbordar o copo. A presença de Assad saía agora reforçada. Isto, significou para a Arábia Saudita, a confirmação do crescente campo de influência do Irão na arena internacional.

A partir de meados de 2 014, a Turquia e a Arábia Saudita começaram em grande medida a partilhar a mesma visão sobre os desenvolvimentos na região. Depois da chegada ao poder do rei Salman, as relações entre os dois países rapidamente se estreitaram. A assinatura do acordo de cooperação estratégica em dezembro de 2 015, foi por isso um ponto de viragem.

Os dois países agem em conjunto para a criação de uma organização de aliança militar do tipo da NATO. Para a Turquia, uma iniciativa que englobe 34 países muçulmanos, significa o reforço da sua capacidade estratégica no Médio Oriente.

O desconforto causado no mundo ocidental pelas iniciativas de cooperação na região, teve um papel de catalizador nesta união de esforços. Em virtude desta relação, a Turquia e a Arábia Saudita começaram a agir juntas, quando anteriormente os dois países tinham no geral pontos de vista diferentes no que respeita à questão síria.

Em 2 016, os dois estados deram importantes sinais sobre o desenvovimento e aproximação das suas relações em praticamente todos os planos.

Será esta relação durável? A política no Médio Oriente tem uma particularidade importante, que é o facto das iniciativas de cooperação política serem normalmente de curta duração. O motivo por detrás desta situação não está na falta de capacidade, mas sim nas intervenções exteriores depois do início do século XIX. Em virtude desta situação, as dinâmicas locais foram com frequência asfixiadas. Isto, por sua vez, vez surgir estados e regimes institucionalmente fracos.

As intervenções exteriores de caráter ativo continuam a ser uma realidade na região. Até que haja uma sensibilidade comum contra estas intervenções, não será possível criar uma relação que se torne cada vez mais institucional.



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