A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente

Uma nova página foi virada nas relações entre a Turquia e o Irão.

460385
A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente

A última visita ao Irão do primeiro ministro turco Ahmet Davutoglu, estava revestida de uma considerável importância tendo em conta o conflito político entre os dois países por causa da questão síria, que se levantou há já alguns anos.

Durante o período anterior à “primavera árabe”, a política externa turca era caracterizada por uma abertura importante face ao Médio Oriente, que tinha granjeado apreço por parte da comunidade internacional.

Ao longo deste período, as relações comerciais, económicas e políticas da Turquia com os países da região, chegaram a um novo nível. Para a Turquia, um clima de cooperação nunca antes visto na história da república, passou a ser a nota dominante.

Esta situação teve também um efeito positivo nas relações com o Irão. No conflito travado entre a comunidade internacional e o Irão por causa do seu programa nuclear, a Turquia desempenhou um papel de mediador, juntamente com o Brasil. A Turquia apoiou ao mesmo tempo o direito do Irão ter acesso à energia nuclear, desde que ela tivesse fins pacíficos.

No entanto, as duas partes optaram por adotar posições de sinal contrário relativamente ao conflito sírio. Com a chegada desta crise, surgiram também as divergências entre o Irão e a Turquia em relação às questões do Iraque, do Líbano e do Iémen. Por outro lado, a cooperação estratégica em rápido desenvolvimento entre a Turquia e a Arábia Saudita - em particular ao longo do último ano – não foi bem acolhida em Teerão.

Na sequência do impacto destes acontecimentos, deu-se uma baixa ao nível das relações políticas e comerciais entre o Irão e a Turquia, nomeadamente a partir de 2 012. O volume de comércio entre os dois países que era na ordem dos 22 mil milhões de dólares em 2 012, passou para apenas 10 mil milhões de dólares em 2 015.

Contudo, a recente visita a Teerão do primeiro ministro turco Ahmet Davutoglu, foi um indicador de abertura de uma nova página nas relações entre os dois países. Apesar das divergências de ponto de vista sobre as questões regionais acima mencionadas, a Turquia e o Irão chegaram a entendimento relativamente a 5 pontos:

Os conflitos regionais devem ser resolvidos pelos países da região.

Os atores de fora da região não devem ser determinantes nas questões regionais.

É fundamental preservar a integridade territorial da Síria.

A implementação do atual cessar-fogo é do interesse de todas as partes.

Na busca por uma solução, a capacidade de representação deve ser tomada em linha de conta no novo tabuleiro que se desenha na região.

A visita do primeiro ministro turco Ahmet Davutoglu, teve como objetivo restaurar as relações entre os dois países, emendando assim a rutura que surgiu devido à guerra na Síria. Mas teve também objetivos económicos, ao pretender relançar as relações comerciais turco-iranianas. A Turquia quer desenvolver as relações económicas com o Irão, que agora está mais desafogado depois do levantamento das sanções.

É evidente que o desenvolvimento das relações económicas, terá um impacto positivo no reforço das relações políticas.

O primeiro ministro Ahmet Davutoglu, tinha indicado a sua intenção de aumentar o volume de comércio bilateral para os 30 mil milhões de dólares, ao longo dos próximos 3 anos. Os dois países vão trabalhar para alargar a cooperação também no domínio bancário e do turismo.

Tentar-se-á também abrir ligações entre as linhas de caminho de ferro dos dois países e de outras redes de transporte. Foi ainda decidido alargar o acordo de parceria económica priviligiada.

Atualmente, a Turquia exporta para o Irão produtos que valem cerca de 3,6 mil milhões de dólares – numa base anual. No Irão, estão implantadas cerca de 200 empresas turcas, cujos investimentos ascendem a 2,1 mil milhões de dólares. Dentro de pouco tempo, os investimentos no Irão por parte de empresas turcas deverão dar prioridade aos setores do vestuário, dos centros comerciais, da energia, a hotelaria, a construção civil residencial, a construção de caminhos de ferro e de redes de auto-estradas, e ainda ao setor automóvel.

E no final de contas, o que é que pode render esta possível abertura de uma nova página?

Antes de mais, as últimas eleições realizadas em ambos os países, permitiram aos governos de Ancara e Teerão renovar a sua confiança.

A vontade comum dos dois governos em desenvolver as relações, abre a porta para uma nova era.

Em segundo lugar, a intervenção direta dos Estados Unidos e da Rússia nos desenvolvimentos na região, é uma fonte de motivação para a organização terrorista DAESH e tem por isso um papel importante.

As declarações que surgem desde logo por parte dos Estados Unidos, dando conta de uma possível partição do território sírio, e a posição seguida pela Rússia sobre a possibilidade de um estado federal, suscitam as mesmas inquietudes na Turquia e no Irão.

As preocupações comuns motivam os dois países a procurar acordos, para que possam agir juntos na defesa dos seus interesses comuns.

Nas condições atuais e em caso de resolução da crise síria, os Estados Unidos e a Rússia poderão manifestar-se no sentido de pedir a restrição das contribuições de Ancara e de Teerão. Esta situação gera mal estar entre os decisores políticos destas duas potências regionais.

Existem numerosos fatores que irão determinar a orientação das relações entre a Turquia e o Irão, ao longo dos próximos tempos.

Os incidentes na Síria, demonstraram que ver a guerra como a única política possível, não pode ter outros resultados que não uma calamidade.

A via para pôr fim a esta situação o mais rapidamente possível, é desde logo evitar utilizar propostas discriminatórias e antagonistas. Com este objetivo em mente, é preciso investir nos denominadores comuns em vez de apostar nas divergências.

No contexto atual, é preciso recorrer às vias e aos mecanismos políticos e não à guerra.

Aumentar a dependência recíproca e reduzir ao máximo os problemas, é muito mais benéfico para ambos os países. Isto facilitará a abertura de uma nova página. Além disso, o regresso ao processo de resolução, não depende apenas das dinâmicas locais.

É extremamente difícil encontrar uma solução para a questão curda, de forma isolada dos desenvolvimentos na região. Neste contexto, a aproximação entre a Turquia e o Irão, reveste-se de uma importância vital para a estabilidade regional em todos os pontos.



Notícias relacionadas