Aumento da violência contra as mulheres na Zâmbia

Mais de 40.000 casos de violência contra as mulheres têm sido relatados em todo o país entre 2013 e primeiro trimestre de 2016.

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Aumento da violência contra as mulheres na Zâmbia

Defensores dos direitos humanos na Zâmbia têm manifestado preocupação com os níveis crescentes de violência contra mulheres e meninas, incluindo o assédio sexual e espancamento no país.

Os casos continuam aumentando apesar dos progressos na promoção da igualdade de gênero, saúde, educação e direitos legais para as mulheres.

Em 1º de julho, várias mulheres da Zâmbia realizaram um protesto pacífico organizado por grupos locais de direitos, sob o tema, "Pare a violência contra mulheres e meninas".

O protesto foi realizado para condenar um ataque horrível contra uma mulher indefesa que não só foi estuprada, mas também foi agredida por um grupo de pessoas conhecidas para ela. Mais tarde, um vídeo do crime foi postado online.

Em comentários feitos durante o protesto, A presidente da Mulheres e Lei da África do Sul Priscilla Chileshe disse: "Estamos preocupados sobre este ataque contínuo contra mulheres e meninas. Estes ataques são feitos por pessoas conhecidas das vítimas.

"Embora, nós tenhamos leis, elas parecem não servir nenhum propósito porque a violência contra as mulheres aumentou de forma alarmante nos últimos meses."

De acordo com Chileshe, as leis do país em si eram um problema.

"Em nossa opinião, a não aplicação da lei é uma forma grave de violência contra mulheres e meninas. Essa é a razão pela qual estamos exigindo a plena aplicação da lei contra autores destas práticas violentas; Infelizmente, alguns deles são cônjuges e familiares próximos das vítimas", disse ela.


Tradições Anti-mulheres

Bayani Choolwe, um acadêmico da Universidade da Zâmbia, disse à Agência Anadolu em uma entrevista que tradições como levirate também foram atos de violência.

De acordo com Choolwe, levirate, que é um tradição do país que requer que uma viúva case com um homem entre os parentes do cônjuge falecido, acaba machucando as mulheres.

"Uma vez que certas tradições, incluindo a levirate tornaram-se socialmente aceitáveis entre as 73 tribos étnicas na Zâmbia, as mulheres não questionam a violência contra elas. E, como resultado, as mulheres são incapazes de lutar contra isso", disse ele.

Ele exortou as mulheres a falar não só contra as práticas tradicionais nocivas, mas qualquer costume restritivo que as subjuga.

"Alguns costumes ainda consideram as mulheres como ferramenta de parto. Isso não apenas prejudica as mulheres, mas também cria um terreno fértil para a violência."


Mais de 40.000 casos notificados

Mais de 40.000 casos de violência contra as mulheres têm sido relatados em todo o país entre 2013 e primeiro trimestre de 2016, segundo a Associação Cristã Young.

O Diretor Nacional da World Vision na Zâmbia Chikondi Phiri disse à agência Anadolu que o aumento da violência contra as mulheres também indicou que mais mulheres relataram os abusos às autoridades locais.

"A campanha contra a violência contra as mulheres tem sido por muito tempo concentrada em áreas urbanas. Nas áreas rurais, o ato é irrestrito. Nessas áreas, muitas meninas e mulheres sofrem a escravidão sexual.

"Se todos os casos fossem relatados, o número poderia ser um pouco maior do que o registrado pelo YWCA [Associação Cristã Young]", disse Phiri.

Phiri acrescentou que a pobreza nas zonas rurais estava forçando as meninas a estar com os homens, alguns com idade suficiente para serem seus avós, para o sexo.


Treinamento da Polícia

O Diretor Executivo de Defesa contra o Abuso e Violência Sexual, Bellion Chola também apontou para a falta de formação entre as autoridades para lidar com crimes contra as mulheres.

"Em alguns casos, a polícia não está devidamente treinada nos procedimentos operacionais exigidos em crimes de gênero", disse Chola.

Ele pediu um novo curso no currículo de formação da polícia para ampliar o alcance da violência contra as mulheres além cd estupro e o envolvimento de todas as partes interessadas, incluindo, médicos e funcionários públicos na luta pelos direitos das mulheres.

De acordo com um relatório emitido pelo gabinete do chefe de polícia em 7 de Junho, dos 4.998 casos notificados no primeiro trimestre de 2016, 703 eram casos de corrupção infantil, 701 casos relacionados a meninas, enquanto dois casos envolvendo meninos.

Além disso, somente 720 casos passaram pelos tribunais, dos quais apenas 113 resultaram em condenações; oito absolvições e 91 processos foram retirados, enquanto 508 ainda aguardam julgamento.

 

Vítimas pedem por conscientização

Ex-vítimas de violência, disseram à agência Anadolu que elas esperam que ninguém nunca passe pelas mesmas experiências que tiveram.

Zelipher Lungu, 26 anos, que sofreu abusos quando era adolescente nas mãos de seu próprio tio, disse: "Eu não desejo que esta experiência horrível para nenhuma outra mulher no futuro."

Kafunya Mbololwa, 30, disse que não tinha idéia de que a polícia ou qualquer um poderia se envolver para ajudar vítimas como ela.

Mbololwa, que suportou uma relação conjugal abusiva, disse: "Se eu soubesse que tinha a opção, eu teria saído há muito tempo.

"[Mas] eu descobri que eu poderia deixar o meu marido abusivo só depois que ele tentou me matar. Naquele momento eu descobri, eu estava no hospital ".



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