A política externa turca apresenta riscos e oportunidades
Os acontecimentos à escala global e na região à volta do país, apresentam riscos políticos e económicos, mas também oportunidades. A análise do Dr Cemil Dogaç Ipek, catedrático do Departamento de Relações Internacionais da Universidade de Karatekin.
No sentido global e regional, a diplomacia turca vive ultimamente um período agitado. Os acontecimentos à escala global e na região à volta do país, apresentam riscos políticos e económicos, mas também oportunidades. No programa desta semana vamos analisar os riscos e oportunidades para a política externa turca.
A realidade da Turquia nas últimas semanas foi de uma intensidade extraordinária. Os acontecimentos à escala global e na região à volta do país, apresentam riscos políticos e económicos, mas também oportunidades. É indiscutível que o principal fator por detrás desta situação é a administração dos Estados Unidos.
As decisões do presidente Trump dos Estados Unidos, que são criticáveis por muitos aspetos, estão a minar as relações com os seus antigos aliados e a estreitar as áreas de colaboração. Podemos avançar com dois motivos para isto, mas um deles é falso. Sem dúvida, o principal motivo da crise é a atitude americana contra Ancara, devido ao pastor Brunson, o missionário americano preso na Turquia devido às suas ligações à Organização Terrorista FETO.
Adicionalmente, as ações da Turquia contra a organização terrorista PKK/YPG na Síria, são outro grande obstáculo às intenções de Washington na região.
Os riscos derivados da guerra na Síria não impactam apenas as relações turco-americanas mas também as relações com a Rússia, o Irão e países da região. Esta situação continua a alimentar a tensão entre estes atores. A principal preocupação da Turquia é a sua segurança nacional e a obrigação de proteção dos equilíbrios diplomáticos entre os atores globais.
Os riscos que enfrenta a Turquia não se limitam à estrutura da organização terrorista PKK/YPG na Síria, que ameaça a unidade e estabilidade do país. O exército turco continua a lutar contra a organização terrorista PKK na Turquia e no Monte Qandil, no norte do Iraque. Por outro lado, a luta contra a estrutura terrorista FETO tanto a nível interno como externo, consome recursos e energia ao país.
Quando a tudo isto se junta a perda do valor da lira turca, que começou depois da crise com os Estados Unidos, pode-se ver claramente que Ancara está numa guerra com muitas frentes. As tensões na economia turca trazem consigo riscos tanto para a segurança interna como externa do país.
No âmbito deste panorama problemático, começaram a ser questionadas as ligações internacionais da Turquia criadas depois da II Guerra Mundial. Isto porque os Estados Unidos – aliados da Turquia na NATO – e os países europeus, para além de partilharem uma aliança global com a Turquia, são também atores em muitas organizações e tratados internacionais dos quais a Turquia faz parte. Apesar disto, na luta contra organizações terroristas como a FETO e o PKK, a Turquia não obtém o apoio que espera dos seus aliados. Esta situação, juntamente com a recente turbulência económica, faz com que a Turquia questione esta aliança.
A recusa em vender à Turquia um sistema de defesa aérea no contexto da NATO, as ameaças contra o sul do país devido à guerra na Síria, e a compra turca dos mísseis S-400 à Rússia, foram os últimos pontos de conflito entre Ancara e os seus amigos americanos e europeus.
Apesar do aumento da instabilidade na região e dos riscos de conflito para a Turquia, e o contexto de tensão com os seus aliados face às legítimas iniciativas para defender o país, fazem com que a Turquia procure novas plataformas em acordos com a Rússia e a China. E esta plataforma não parece limitar-se apenas às compras militares. O volume e características das negociações entre os presidentes e diplomatas da Turquia, Rússia e Irão, substituem agora os contactos do passado com os Estados Unidos. Na Síria, e sobre a crise de Idlib em particular, Ancara e Washington não parecem ter tido grandes contactos.
Para além da questão síria, as iniciativas de colaboração económica com parceiros comerciais próximos como a Rússia, a China e outros, mostram que está mais avançada a procura da Turquia por novas plataformas internacionais está mais avançada do que se pensava. A proposta de uso das moedas nacionais em vez do dolar, nas trocas comerciais entre estes países, teve resposta positiva por parte da Rússia e da China. O uso do ouro das moedas nacionais no comércio internacional e as tentativas de aumentar o número e a dimensão das zonas de comércio livre, são iniciativas que valem a pena.
Para além das tentativas acima mencionadas de obter soluções de curto e médio prazo para a crise cambial da Turquia, no futuro próximo poderemos testemunhar novas propostas de parcerias comerciais, bem como de criação de estruturas semelhantes à união aduaneira com a União Europeia. É indiscutível que tudo isto, na perspetiva da Turquia, está pendente da adesão à União Europeia avançar ou não. A estrutura da União Europeia não permite, juridicamente, a existência de outras uniões aduaneiras em simultâneo. Caso o processo de adesão da Turquia seja cancelado, a Turquia poderia avançar para uniões aduaneiras com outros parceiros.
Em resumo, a situação atual da Turquia, em que se depara com riscos de todos os lados, representa também novas oportunidades e novas visões. Quando se considera que a Turquia está fortemente dependente da atitude dos países seus aliados, se a crise continuar, parece possível que Ancara opte por roturas diplomáticas multidimensionais.
Esta foi a opinião sobre este assunto do Dr. Cemil Dogaç Ipek, catedrático do Departamento de Relações Internacionais da Universidade de Karatekin